domingo, 11 de novembro de 2018

Sir Charithoughts SPECIAL: Gold & Silver #3

Pokémon Gold & Silver #3

Um cristal precioso…?
Não importa quantas vezes eu leia este décimo volume de Pocket Monsters SPECIAL, nunca é uma experiência muito agradável pra mim. O primeiro motivo é a mudança de artista. Por mais que eu tenha ciência de que a arte de Mato não estivesse em sua melhor forma em Pokémon Gold & Silver e que ela tenha se afastado por problemas de saúde e que neste volume mesmo Satoshi Yamamoto já consiga deixar seu traço mais alinhado com o estabelecido previamente, ainda é difícil ler essas páginas sem estranhar a diferença gritante de um artista para outro. Porém, o motivo principal é a mudança radical nos rumos da narrativa, causados pela chegada da nossa nova protagonista.
Como meus charithoughts anteriores mostraram, eu estava completamente investido na trama de Gold e Silver. Havia comédia, mistério, desenvolvimento de personagens, Pokémon cheios de personalidade e carisma. E aí tudo isso é abruptamente pausado e somos introduzidos a uma nova personagem, com uma nova jornada. Antes de mais nada, a decisão em si não é ruim. É compreensível que, tendo que acompanhar os lançamentos dos jogos, Hidenori Kusaka tenha que adicionar a nova protagonista feminina e Suicune à sua história por causa de Pokémon Crystal Version. Também parece razoável que diante da troca de artista, ele tenha estrategicamente optado por introduzir uma nova personagem inicialmente desconectada dos anteriores para evitar uma maior estranheza de traços pelos leitores e dar mais tempo para Satoshi Yamamoto se ajustar. E é louvável que o mangá não tenha medo de colocar uma personagem feminina à frente de sua próprias história, sem necessidade de estar conectada aos outros protagonistas masculinos. E apesar de tudo isso, a jornada de Crys ainda acaba sendo uma experiência um tanto frustrante.

E o problema não é a personagem em si. Crys tem tanto carisma quanto qualquer um dos outros personagens apresentados por Kusaka. O problema é que ela já entra na história como alguém completamente pronta. Ela já é uma talentosa especialista em capturas, possui um time pronto, sólido e inteiramente funcional e talvez por isso, seu desenvolvimento pessoal acaba ficando muito raso. Enquanto a aventura de Gold e Silver vinha numa constante de dois garotos se enfrentando, se conhecendo e amadurecendo juntos, em suas respectivas missões, a jornada de Crys parece se resumir em se aventurar para capturar novos Pokémon e encontrar o Suicune aqui e ali no processo. Para piorar, dos sete Pokémon principais da garota, apenas a novata Megachi apresenta alguma personalidade já de cara. O resto se restringe a saber movimentos estratégicos para captura, como Olhar Malvado, Esporos e Corte Artificial - e coitada da Chumchi!
No prefácio do mangá, o autor diz que possui um "carinho especial pela nova personagem" por ela concretizar seu antigo sonho de desenhar uma especialista em capturas. Porém, ele não consegue tornar os capítulos de captura tão interessantes quanto eles poderiam ser. Talvez se Crystal fosse acompanhada de uma equipe com mais personalidade, talvez se seu objetivo não fosse só pegar Pokémon para completar a Pokédex, talvez se ela tivesse uma outra motivação, algo que nos fizesse torcer por ela num nível mais pessoal e talvez tenha sido essa a intenção ao atrelar sua jornada ao encontro com Suicune.

A fera lendária capa de Pokémon Crystal Version assume um papel de importância, assim como Pika em Pokémon Yellow -, porém os capítulos focados no Pokémon Aurora basicamente se resumem a ele indo atrás dos Líderes de Ginásio em busca de um Treinador forte. Assim, este volume acaba ficando um tanto procedural com capturas intercaladas com batalha que claramente existem principalmente para nos introduzir os Líderes de Ginásio de Johto que ainda faltavam, já que fazem pouquíssima diferença pra história principal.
Não que Kusaka nos deixe completamente sem nenhum desenvolvimento narrativo. Em todos os capítulos, são dados detalhes e pequenas informações que casam com fatos da continuidade que já conhecemos, como a confirmação de que Chuck foi o misterioso mentor de Blue citado em Pokémon Yellow e o paradeiro de Lance ainda sendo um mistério. Eventos como o despertar das feras lendárias, a missão secreta de Suicune e o encontro de Crys com Tenente Surge em Johto nos dão um senso de continuidade com o universo maior já estabelecido e adicionam mais consistência à trama principal deste arco - ainda que contribuam nada para o desenvolvimento pessoal da nova protagonista.
A história fica bem mais interessante em seus quatro capítulos finais com a introdução de outra figura interessante de Pokémon Crystal Version no mangá: Eusine. O caçador de Suicune surge como uma deliciosa (e não estou me referindo a ele de cuequinha aqui, seus pervertidos) contraparte à Crys com sua moral dúbia e mania de tapear as pessoas usando seus truques de mágica. Sua batalha contra o trio de elite da Equipe Rocket - que recebe nomes pela primeira vez aqui, depois de dez volumes! - e a dinâmica com Crys é ótima e prova que talvez tudo o que estivesse faltando para Crys em seus primeiros capítulos fosse alguém legal com quem interagir.

Considerações finais:
  • Desculpem a demora para publicar este texto, galera, mas tive uma maratona de The Fosters para fazer antes que saísse da Netflix e o trabalho como sempre é um empecilho, mas antes tarde do que nunca!
  • Eu estou saindo do Facebook lentamente, então me acompanhem no twitter: https://twitter.com/pedroh_sir pra ficarem por dentro dos textos que forem saindo aqui;
  • Sobre os erros da Panini neste volume, três me chamaram a atenção:
  • O primeiro ocorre no capítulo "VS Qwilfish" e não sei se dá pra considerar um erro. Na Bulbapedia, é dito que os Qwilfish estavam usando o Poison Sting, o que faz sentido. Porém, a tradução chamou esses ataques de Espinhos Venenosos em vez de Ferrão Venenoso, conforme as Pokémon Estampas Ilustradas e o Pokémon Go. O ponto é que o tradutor pode não ter percebido que se falava de um movimento e apenas dos espinhos físicos do Pokémon mesmo;
  • Houve também um bocado de pluralização no nome dos Pokémon, algo que eu nem considero particularmente errado também, mas que foge do padrão;
  • O SS. Anne, que anteriormente foi chamado de Santa Ana e St. Ana agora foi chamado de SS Santa Ana. Misericórdia pra que foram inventar de traduzir o nome do barco se SS Aqua tá lá lindo e maravilhoso sendo mantido no original?
  • No capítulo "VS Dragonair", durante a batalha contra o Suicune, Clair diz "Miserável! Usou paralisia para ele não se mover!". Todavia, o Pokémon lendário não havia feito nada para paralisar Dragonair. O correto seria Clair dizer que usaria um movimento para paralisá-lo, por isso ela ordena que seu Pokémon use o Sopro do Dragão no quadro seguinte;
  • Apesar de Megachi ser referido no feminino diversas vezes só por ser um Chikorita, o Pokémon na verdade é do sexo masculino, mas gênero é uma construção social, não é mesmo?

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