quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Desa-bafo do Dragão #6 - Masuda Ataca Outra Vez

Destrinchando a Entrevista de Masuda para a Eurogamer

Olá, sumidos rs
Depois de quase dois meses de ausência quase completa por razões de muito trabalho, maratona para terminar The Fosters antes de a Netflix tirar do catálogo, investimento em Fire Emblem e Monster Hunter Stories e todo esse estresse causado pelo cenário político do país, sou finalmente tirado do ostracismo autoimposto por ninguém mais ninguém menos que aquele que inspirou a criação da minha série de postagens focadas nas minhas frustrações com essa franquia amada que não cansa de me dar motivos para desabafar.
Com a proximidade do lançamento de Pokémon: Let's Go, Pikachu & Eevee!, o site Eurogamer publicou uma entrevista com Junichi Masuda, diretor executivo e chefe de desenvolvimento de jogos para a Game Freak, comentando algumas das decisões criativas para os novos jogos. Obviamente se eu estou deixando de escrever um charithought sobre o volume 3 de Pokémon: Gold & Silver para falar disso, é porque a fala de Masuda mexeu comigo o bastante para incitar outro Desa-bafo do Dragão. Você pode ler a entrevista na íntegra aqui, em inglês.

Vale dizer que nos últimos meses, Pokémon Let's Go têm gerado um bocado de frustração entre os fãs por causa de suas limitações (apenas os 151 Pokémon originais + as formas de Alola + Meltan e sua provável evolução disponíveis, nada de equipar itens, nada de cruzamento, nenhum acréscimo realmente relevante além de decoração de Pikachu e Eevee, Pokémon te seguindo e aparecendo fora do mapa, etc). Frustração essa que faz com que fãs como Joe Merrick precisem constantemente forçar uma positividade que Let's Go vai valer seus 60 dólares (ou suados 250 reais) e essa entrevista parece ter só piorado as coisas, como expresso pelo mesmo em seu Twitter.
"Parece que as reações a Let's Go só ficaram mais negativas depois que as entrevistas com Masuda saíram.
É uma pena. Vai ser legal. Eu entendo e concordo completamente com algumas das reclamações, mas é um jogo legal para preencher o que seria um ano de pausa."
Enquanto parte da negatividade parece focada no comentário de Masuda de que não quer que a franquia se resuma a chocar ovos, existem tantas coisas erradas que vamos lá!

Crise de Identidade
Pokémon vive um momento tão incerto e sombrio quanto a política internacional. Enquanto até Pokémon Black 2 & White 2, a franquia parecia saber exatamente aonde estava indo e como agradar os fãs apresentando cada vez mais novos desafios e novidades há muito desejadas (com exceção de 60% dos Pokémon da V Geração e as batalhas superpixeladas?), nos anos seguintes a Game Freak pareceu presa numa eterna jornada de tentar a todo custo redefinir seus monstros de bolso para "o público de hoje". Isso está longe de ser um problema. Outras franquias longevas como Mario, Fire Emblem e The Legend of Zelda também encaram suas crises de identidade regularmente e buscam inovar a cada novo título para atrair novos fãs e surpreender os antigos.

Ainda assim, foi com certa surpresa que vimos as versões para o Nintendo 3DS tomarem um rumo diferente. Os jogos ficaram mais fluidos, mas muito mais fáceis, tiveram relativamente menos conteúdo pós-game, houve um visível maior investimento no competitivo e na nostalgia, mas muito menos nos desafios dos jogadores dentro do próprio jogo. Enquanto no passado títulos como Ruby & Sapphire e Black & White desafiavam os jogadores a usarem mais os novos Pokémon e a dependerem menos dos monstrinhos já conhecidos, X & Y trouxeram os iniciais de Kanto para o começo da sua jornada e lhes deu megaevoluções, um benefício que nem os próprios iniciais de Kalos tiveram, e Sun & Moon deu várias formas de Alola somente para as criaturas da I Geração.

A redução de conteúdo foi explicada por Masuda lá em 2014, como abordado no primeiro Desa-bafo do Dragão, como uma reação ao fato de que hoje as crianças se cansam mais fácil de jogar portanto desafios prolongados como a Battle Frontier não se encaixam no perfil de jogo feito para os tempos de hoje - os quase 10 milhões de jogadores de The Legend of Zelda: Breath of the Wild discordam. Infelizmente, nem os cinco anos que separam o lançamento de Let's Go e X & Y serviram para mudar essa linha de raciocínio!

Pikachu & Eevee só para baixinhos
Na entrevista, Masuda voltou a afirmar que o público alvo de Pokémon: Let's Go são as crianças que nunca tiveram contato com um jogo dos monstros de bolso antes, nem mesmo Pokémon Go e portanto eles optaram por escolher começar com um remake de Pokémon Yellow Version: Special Pikachu Edition por considerarem-no um jogo simples e fácil de gerar identificação pela presença de Pikachu e da Equipe Rocket, popularizados pelo anime. Enquanto essa é uma decisão que faz sentido, também levanta a questão de por que Kanto e a restrição aos 151? Afinal, se você quer apostar num público novo, por que restringi-los a bichos velhos? Não seria mais inteligente envolver de alguma forma os personagens e monstros introduzidos em Sun & Moon e que ainda estão em evidência no anime, que ainda vai bem de audiência? Afinal, não era Yellow meramente um Red & Blue mais próximo de Pokémon, a Série?

Além do mais, ao ser questionado sobre se, com a retirada das HMs o jogo ainda manteria desafios como alguns quebras-cabeças como os de mover pedras na Victory Road, o diretor novamente sacou a desculpa esfarrapada de que as crianças de hoje jogam jogos fáceis e curtos e mudam de um para o outro rapidamente, portanto enquanto um jogador levava em média 30 ou 40 horas para zerar Pokémon Yellow, obstáculos que poderiam tomar muito tempo dos jogadores foram removidos para que Pokémon: Let's Go pudesse ser zerado num tempo ainda menor (podemos estão apostar num Rock Tunnel completamente iluminado?).

Olha, OK, eu entendo. Crianças de hoje em dia aparentemente não gostam de jogos complexos, mas esse é o tipo de decisão que eu considero terrível porque aliena completamente os fãs antigos. Pokémon X & Y e Pokémon Sun & Moon venderam mais de 16 milhões de unidades cada, são os quatro títulos mais vendidos para o Nintendo 3DS atrás somente de Mario Kart 7 e viram seus números aumentarem depois do sucesso de Pokémon Go, cujo público médio consiste de adultos entre 25 e 40 anos. Pokémon continua sendo um sucesso entre as crianças, mesmo atraindo um público majoritariamente adulto. Então por que essa insistência em fazer jogos que satisfaçam especificamente uma demografia tão específica e não à maior demografia possível? Por que continuar ignorando os clamores de fãs antigos por uma maior dificuldade e investir cada vez mais nos pirralhos? Quanto tempo teremos que esperar por outro jogo com modos de dificuldade?

O entrevistador da Eurogamer continuou querendo saber o que o jogo tinha a oferecer para os jogadores mais velhos, em termos de desafio e dificuldade e tudo o que Masuda respondeu foi o desafio dos 151 Master Trainers e a mecânica de "catch combo" que te dá recompensas por capturas consecutivas. AH E CLARO! COMPLETAR A POKÉDEX. DE KANTO. DE NOVO. PORQUE NUNCA É O BASTANTE, NÃO É MESMO???? E ainda rolou o comentário sobre os fãs chocarem muitos ovos e ele não querer que os Pokémon sejam vistos assim como uma justificativa esfarrapada para ovos e evoluções de outras gerações não estarem incluídos nesses dois títulos. Honestamente não faz o MENOR sentido pra mim colocarem um Pokémon novo horroroso que ninguém ama nesses jogos e não permitir que Umbreon xodó de todos seja barrado.

Eu ficaria mais preocupado, Masuda, com o fato de que a sua explicação para os Pokémon serem vistos andando no mapa ser para facilitar que eles sejam evitados e não algo bonito e sentimental como "dar uma sensação maior de imersão do jogador dentro de um universo habitado por Pokémon". E falando em imersão, ele voltou a falar sobre o mundo aberto, mas sem dar muita esperança, então guardem suas expectativas e joguem Monster Hunter Stories que vocês ganham mais (serião mesmo) - e tem vááááááários ovos pra vc roubar de suas mães e chocar sem culpa.

Conclusão
É compreensível a tentativa da Game Freak de continuar mirando no público infantil, afinal são elas o futuro, mas alienar o público mais velho que acompanha a série e que é o verdadeiro detentor da grana pra gastar é algo que ainda não faz sentido pra mim. Além disso, esse é o segundo remake baseado na região de Kanto, então por que fazer uma reciclagem tão básica? Eu não me importaria de retornar a Kanto se ela tivesse algo realmente novo para apresentar que não fosse cabelinho bizarro de Pikachu, mas assim como os remakes de Ruby & Sapphire prenunciaram, parece que a atual ideia de remake da Game Freak consiste em pegar o que era bom, melhorar os gráficos e tirar conteúdo. Não é de fato para o meu gosto e eu definitivamente não vou surfar nessa onda de Pokémon: Let's GoVou é ficar aqui torcendo pro fracasso porque não quero um Let's Go: Pichu & Togepi daqui a dois anos.
Beijos

P.S.: para acompanhar meus posts no blog podem me seguir no twitter @pedroh_sir

Nenhum comentário:

Postar um comentário