segunda-feira, 23 de abril de 2018

Sir Charithoughts SPECIAL: Yellow #4

Pokémon Yellow #4

Confronto frustrante
Eu já li esses primeiros sete volumes de Pocket Monsters SPECIAL pelo menos cinco vezes cada e nunca é fácil engolir esse sétimo volume. Quando Pokémon Yellow começa, descobrimos nossa protagonista como uma Treinadora novinha, ingênua, doce e inexperiente, mas com habilidades especiais e a determinação necessária para partir em uma jornada para encontrar Red e enfrentar a Elite dos Quatro. Os volumes seguintes focam em mostrar o fortalecimento dessa personagem, sem nos deixar perder de vista quem ela é. Só que Yellow também é a antítese do que um protagonista de Pokémon representa porque, chegando ao volume final de sua saga, ela ainda não é boa em batalhas. Yellow é simples: a garota capaz de desmantelar o plano da Equipe Rocket usando sabedoria e focando em salvar as pessoas de um naufrágio em vez de partir para o confronto direto. É por isso que quando a luta final entre Yellow e Lance se desenrola, a sensação predominante é a de frustração.
A máxima "um herói só é tão bom quanto seu vilão" existe para nos lembrar que o vilão é importante enquanto agindo como aquele obstáculo que o herói deve superar e que vai determinar o progresso que ele fará. Pode se tratar de um desafio físico, cerebral, psicológico, de qualquer natureza, mas um que seja coerente para o herói vencer. Portanto, quando Yellow surge na batalha em Cerise ainda com um time de Pokémon "fracos" para lutar contra um Mestre de Dragões, como Lance, a solução MENOS VIÁVEL para a batalha é situá-la num cenário impossível como o interior de um vulcão!

Hidenori Kusaka não é estranho a exageros, mas essa escolha de local é de estourar o limite de qualquer suspensão de descrença - e olha que o roteirista exige muitas dessas! Nem mesmo seus Treinadores mais fortes Red, Green e Blue tiveram que enfrentar esse tipo de provação, nem mesmo Blaine e Giovanni em suas batalhas contra o Lance, então por que logo Yellow? O pior é que a batalha nem sequer é coerente: o líder da Elite dos Quatro lança ataques devastadores com seu Dragonite e Aerodactyl, mas a garota consegue se esquivar surfando na lava e ainda fazer com que Lance seja engolido por ela (mesmo ele estando sobre um Pokémon Dragão/Voador…). Outro problema é que vemos Lance recuperando seus Pokémon, mas nunca Yellow - mesmo os Pokémon dela claramente precisando em diversos momentos. E eu nem quero comentar a ideia ridícula de bolha gigante… é uma forçação de barra pior que a outra!
Para piorar, Kusaka ainda transforma Lance num vilão insano, sem carisma, falastrão, cheio de frases de efeito clichês e genéricas. O que mais me irrita nesse processo é que o Mestre de Dragões é o único da Elite mostrado sem nenhuma vulnerabilidade ou compaixão, quando ele claramente devia ter alguma! Em "VS Metapod", é revelado que sua motivação resulta da revolta de ver o que as ações irresponsáveis dos humanos causaram aos Pokémon, em especial ao seu Dragonite, mas ainda assim isso é revelado através de um flashback do próprio Pokémon e não do Treinador.
O mais lamentável é que o tempo que Kusaka gasta com uma batalha que se preocupa em ficar sendo insanamente cada vez mais épica nos priva do que poderia ser um final bem mais emotivo e pessoal, com um complexo desenvolvimento de personagem. Yellow e Lance são opostos, ambos são da Cidade de Viridan, ambos possuem o poder de curar e compreender os Pokémon - você quer, @N? -, mas cada um direciona seu poder para algo diferente. Se no final das contas, o que importa é a escolha que cada um faz de como utilizar o poder que tem, esse tópico deveria ter sido o foco das histórias e não a batalha exagerada. Em vez de diálogos clichês, devia haver uma conversa madura entre os dois personagens. Em vez de uma luta num vulcão mirabolante, um confronto mais simples na qual fizesse sentido Yellow vencer (ainda que não da forma tradicional, assim como sua vitória contra a Equipe Rocket no Sta. Ana) e que mostrasse a sinergia do seu time. Não só teria sido muito mais interessante, como também seria fiel ao espírito de Yellow e do que ela representa.

O que salva
Felizmente, existem outros eventos maravilhosos em Pokémon Yellow #4 que entregam o que prometem e compensam esse confronto final desagradável. Para começar, vale realçar as confrontos de Blaine e Giovanni contra Lance. Eu sempre fico chocado com a capacidade de Mato de deixar Mewtwo fofo ao mesmo tempo que imponente. Todo o drama entre o Líder de Ginásio e o Pokémon Genético torna o confronto interessante e a tentativa de impedir Lance de lutar destruindo as trincas das Ultra Bolas uma ótima estratégia - e uma que sempre me faz ponderar se os Pokémon Dragões ficariam eternamente confinados a elas.
Outro momento épico é o retorno de Giovanni. Eu confesso que tinha me esquecido que o líder da Equipe Rocket aparecia aqui - mesmo já tendo lido essa história tantas vezes - e foi um frescor vê-lo aparecendo no meio do tédio da batalha entre Lance e Yellow. Apesar da minha preguiça eterna com essa insistência de Kusaka de atrelar certas vantagens naturais ao local onde a pessoa nasceu (palletianos campeões de Liga, viridianos… salvadores/destruidores de Kanto?), a aparição surpreendente do antigo Líder de Viridian logo após ser revelada tal informação causa um baita impacto e é ótimo vê-lo humilhando Lance, mesmo que só por uns instantes.
Todavia, meu momento favorito de Giovanni não é nem a batalha em si, mas a sua realização, após ver o poder imenso que Yellow lança sobre Kanto e a colaboração de seus comandantes com os portadores da Pokédex, de que a Equipe Rocket não está pronta para um retorno. Essa capacidade de reconhecer sua própria limitação e enxergar o valor de seus oponentes é o que eu mais gosto nesse personagem. Em vez de se orientar puramente pela própria ambição, ele possui algum nível de humildade ainda que atrelada a um puro instinto de sobrevivência. Essa cena é particularmente interessante como uma justificativa antecipada à sua ausência nos jogos Pokémon Gold & Silver.
As conclusões das batalhas contra Lorelei e Bruno são maravilhosas! É muito interessante ver como no fim das contas, Sabrina e Green se provam incapazes de trabalhar juntas, mas ainda conseguem vencer Lorelei com uma dando continuidade ao trabalho da outra. A revelação de que o casaquinho era na verdade Dittinho o tempo todo é uma das minhas reviravoltas favoritas e mais um item na lista de momentos únicos e surpreendentes da Palletiana! A batalha de Red contra Bruno é outro ponto alto.
Vee é um dos Pokémon mais interessantes de Red e foi uma infelicidade não tê-lo visto integrando o sexteto final que o Treinador levou para a Liga graças à sua condição especial e ao fato de que o Treinador precisava de Pokémon com movimentos de MO (Máquina Oculta, obviamente). Assim sendo, seu retorno - que vinha sendo preparado há vários volumes - foi tudo que se poderia esperar e muito mais: é a transformação da maldição em bênção, a superação do trauma, o poder especial que todos nós indecisos queríamos dar para nossos amados Eevee - e um momentinho bem Digimon, vamos admitir.
Versão brasileira Panini
A Panini segue sua impressionante marca de não conseguir deixar um volume passar sem erros - e a gente sempre acha um novo, como eu percebendo que a Clefable de Green foi chamada de Clefairy na edição anterior só agora. Desta vez, houve um breve momento em que Green foi erroneamente chamada de Blue e novamente o problema com Thunderbolt sendo chamado de Relâmpago e Choque do Trovão atacou, só que com novas ramificações.
Pokémon Yellow #4 traz o icônico momento em que Pika usa o seu primeiro movimento improvisado na série de Kusaka e Mato para derrubar Lance. Na versão japonesa, Relâmpago é chamado de 100 mil volts, portanto quando Yellow comanda que Pika use um golpe mais forte ela simplesmente ordena uma quantidade maior de volts para o ataque: 1 milhão de volts! Essa lógica também é utilizada para o Movimento Z exclusivo de Pikachu utilizando o Relâmpago, na qual ele dispara um Relâmpago de 10 Milhões de Volts. Como toda a ideia da quantidade de volts é ignorada na versão americana, a solução utilizada pelos tradutores foi chamar o golpe de MegaVolt, para passar a impressão de que se tratava de um ataque muito mais forte.

No Brasil, Thunderbolt é motivo de um já velho desacordo entre traduções. Enquanto fontes oficiais como Pokémon Estampas Ilustradas e Pokémon Go chamam o ataque de Relâmpago, o anime e o mangá continuam usando sua liberdade para usar o nome popularizado ao longo dos anos no Brasil: Choque do Trovão. O interessante é que neste volume, o tradutor Fernando Mucioli decide batizar o MegaVolt de Choque do Trovão, incorporando-o à explicação de que o Choque do Trovão é um Relâmpago 10 vezes mais forte. Enquanto de um ponto de vista de coerência, a decisão faz com que o Choque do Trovão se torne uma variante "cânone" do Relâmpago para os fãs brasileiros, ela também apaga o fato de o MegaVolt ser um feito único e inédito para Pika uma vez que o nome já foi utilizado em diversos volumes anteriores.

Considerações finais:
  • Nos remakes HeartGold & SoulSilver, um evento com Celebi mostra duas cenas adicionais com Giovanni. A primeira delas, adaptada na websérie Pokémon Gerações, mostra seu diálogo final com Silver, no qual ele decide debandar a Equipe Rocket e partir numa jornada sozinho para retornar mais forte. Na segunda, o Pokémon Viagem no Tempo leva o jogador até o líder da organização momentos antes de ele decidir retornar, apenas para que ele seja derrotado novamente por um novo Treinador de 10 anos, o que o faz desistir do seu sonho de reerguer a Equipe Rocket para sempre. Se essa ideia sempre foi algo que a Game Freak teve em mente ou se foi inspirada na atitude do personagem no mangá, é algo que talvez jamais saibamos;
  • Como será que Silver obteve a informação sobre Lance só poder ser derrotado por um Treinador de Viridian? Ele não está em Johto?
  • Caso não tenham visto, já publiquei os Guias de Batalhas de Green e Yellow! Estão mais abaixo, mas você acessá-los clicando aqui e aqui. Além disso, os Guias de Red e Blue também foram atualizados;
  • A Panini Comics lançou Pokémon Gold & Silver #2 este mês e eu fiquei confuso porque esse mangá não devia ser bimestral? Não me leve a mal, eu sou a última pessoa que vai reclamar dessas edições saindo rápido demais no Brasil, especialmente estando hiperansioso para ler Ruby & Sapphire já que Gold & Silver é outro arco que eu já li, mas esse lançamento me intrigou. No site da Panini até diz que o Pokémon Gold & Silver #1 é de março e o #2 de abril. Será que a editora está tentando compensar os atrasos anteriores? Eu encorajo a lançar o Gold & Silver #3 já em maio!
  • Uma defeito muito visível de Kusaka nessas primeiras sagas e que ele não parece mais cometer - pelo menos considerando Pokémon Black & White - é o de enfiar um monte de explicação desnecessária de forma muito pretensiosa. Tá certo que algumas coisas a gente precisa saber, como por exemplo como Green se envolveu com Yellow e etc, mas outras são completamente estúpidas e ninguém precisa, mas o roteirista age como se fossem hiperimportantes. Por exemplo:

  1. As supostas quatro habilidades especiais dos Dragonair dele. É um momento que eu não sei é o roteirista deliberadamente nos mostrando o quão insuportavelmente convencido Lance é ou se ele achou que isso de alguma forma mostraria (ainda mais) a força do líder da Elite dos Quatro. Qualé, cruzar os céus???? Qualquer Dragonair comum viaja pelos céus. A gente viu isso inclusive no mangá, quando o exército Dragão vai para Kanto, então tem nada de especial nisso! O mesmo vale para o poder de controlar o clima. É algo que qualquer Pokédex básica vai te dizer sobre Dragonair, é algo comum da espécie, não dos Dragonair especiais de Lance. A única coisa ali realmente formidável seria controlar a direção dos raios de energia e ainda assim nem é algo tããão grande coisa assim. Além do mais, essa batalha foi há duas edições atrás e a gente acredita que eles são fortes e pronto!
  2. Toda a parte de como as bolhas eram coloridas e ficavam invisíveis por causa diszzzz
  3. A forma de controle dos exércitos dos Pokémon da Elite pela Agatha. No volume anterior, descobrimos que Agatha e o Prof. Carvalho pertenciam a um mesmo time de pesquisas até Carvalho largar a equipe devido ao foco das pesquisas em controlar Pokémon. Aqui, descobrimos as ramificações disso e enquanto eu acho coerente mostrar que Agatha sabia como controlar todos os exércitos de Pokémon em Kanto à distância, a explicação fica um pouco exagerada e duvido que alguém até sentisse necessidade dela. Talvez Kusaka quisesse mostrar o quão séria essa pesquisa foi, detalhando a influência das Insígnias, dos braceletes e da cadeia hierárquica de comando existente entre os próprios Pokémon (embora eu duvide muito que isso tenha alguma relevância no futuro para esta série), mas alguns exageros foram cometidos. Era mesmo necessário que ela fosse a única responsável? Se ela já tem Pokémon em Ultra Bolas, não é extremamente redundante mostrar que seus próprios monstros também possuem braceletes de controle? A única parte realmente relevante foi sobre como o controle era exercido sobre Bruno, inclusive explicando minha dúvida do volume anterior sobre o porquê de ela e Lorelei não terem tentado controlar Red também;
  4. A razão pela qual o Professor Carvalho usou Pokémon do tipo Normal contra os Fantasmas de Agatha foi para não machucar os Pokemon dela e esse é o provável motivo de a batalha ter demorado horas: Liga mais chata de todas!
  • Aliás, podemos combinar que Agatha era a verdadeira dona da Elite dos Quatro? Foi ela quem encontrou o Amplificador de Energia das Insígnias, foi ela quem recrutou Lorelei, era ela quem controlou Bruno, ela quem mandou os exércitos de Pokémon para Kanto. No fim das contas, fica até difícil saber com o que Lance contribuía para a equipe. Era só por causa dos seus poderes especiais e sua capacidade de controlar Dragões? Agatha ia mesmo deixar Lance controlar Lugia ou ela pretendia dar-lhe uma pernada? Aliás, me intriga que em meio a tantas explicações desnecessárias, Kusaka não se preocupou em mostrar como Lance e Agatha se conheceram e até mesmo a relação dele com os outros três. Lance mal interage com seus colegas de equipe ao longo desses quatro volumes e esse é outro erro do roteirista para com o personagem. O mais foda de tudo é que apesar dos esforços de Agatha, é Lance quem é tratado como o grande vilãozão desse arco e a velhota está completamente esquecida no churrasco;
  • Eu detesto muito como os Pokémon de Yellow convenientemente evoluem e sobem de nível de forma milagrosa só para terem chance de combater o time de Lance em "pé de igualdade". Pelo visto, até Kusaka se arrependeu já que eventualmente o time da garota foi desnivelado para algo mais próximo do que seria real para seu progresso;
  • Apesar de ser Pokéshipper até no mangá, eu devo dizer que iria adorar se Red demonstrasse sentimentos por Yellow antes de descobrir que ela é menina simplesmente porque abriria espaço para ele ser bissexual a la Li Shang de Mulan;
  • A minha parte favorita de Yellow nesta edição é o seu sonho, no final do volume. Toda a ideia de a personagem se permitir um último momento com seu time do jeito que ele era, sem Pika indo embora, sem Doda, Rattatinho, Gravelito, Omanito e Pipo evoluírem é lindo e uma forma sensível de mostrar a simplicidade da personagem e como, apesar das concessões que fez durante a batalha final, ela ainda permanece a mesma;

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