A Alarmante Estagnação dos Jogos Pokémon!?
Rentável nostalgia
A Nintendo sempre foi uma empresa apegada às suas propriedades intelectuais. Nenhum videogame seu é completo sem um Mario, Pokémon ou Zelda da vida e isso não é à toa. Além de serem extremamente populares e reconhecidos ao redor do mundo, as franquias da Nintendo são também as mais vendidas para seus consoles e portáteis desde o lançamento do primeiro aparelho da empresa. O problema é que os últimos anos não têm sido gentis com a Big N. Depois de serem levados a alturas antes nunca alçadas com o Wii e o Nintendo DS e seus impressionantes mais de 101 milhões e 154 milhões unidades de hardware vendidas, respectivamente, a empresa tem amargado uma triste realidade com o Wii U e o Nintendo 3DS. Se as altíssimas vendas dos consoles anteriores permitiam que a empresa trilhasse um caminho próprio, com as demais desenvolvedoras de jogos interessadas em lançar games para os aparelhos que possuíam uma base de consumidor tão grande, os mais recentes têm encontrado dificuldade para encontrar suporte de third-parties, forçando a casa do Mario a quase que trabalhar sozinha. E 2015 foi um ano particularmente difícil.
Recentemente, o site Nintendo Life publicou um artigo se defendendo dos ataques que vem sofrendo dos leitores devido ao número relativamente grande de críticas negativas que seus redatores têm redigido sobre os jogos lançados para consoles da Nintendo este ano. O site se defendeu dizendo que, infelizmente, temos que admitir que este ano, por mais que gostemos da empresa e suas franquias, houve pouca coisa para se alegrar. De fato, este foi o primeiro ano desde que eu comprei meu 3DS que eu não fiquei desesperado querendo comprar cinco, seis jogos novos no ano. O Wii U não viu uma vida muito melhor. Splatoon é um imenso sucesso, mais do que qualquer um esperava talvez, enquanto Super Mario Maker chegou reinando como se esperava, porém nenhum dos dois vai fazer milagre pelo Wii U e suas 10 milhões de unidades vendidas em seu terceiro ano de vida e mesmo com Xenoblade Chronicles X saindo agora no fim do ano, é provável que ele não vá conseguir ir além do seu nicho de jogadores, por mais grandioso e elogiado pela crítica que ele seja. Além disso, 2015 também viu o The Legend of Zelda para Wii U ser adiado mais uma vez.
E não é que faltaram jogos de franquias conhecidas. Praticamente todas os IPs importantes da Nintendo tiveram jogos novos lançados este ano no ocidente. Além de Super Mario Maker, o universo do encanador também teve Yoshi's Woolly World, Mario Party 10 e o mais recente Mario Tennis: Ultra Smash, entre vários outros. Do lado hyruleano da Triforça tivemos The Legend of Zelda: Majora's Mask 3D e The Legend of Zelda: Tri Force Heroes. Kirby atacou com Kirby and the Rainbow Curse e os bichinhos de Animal Crossing vieram com Animal Crossing: Amiibo Festival e Animal Crossing: Happy Home Designer.
E, claro, tivemos Pokémon. Muitos até: Pokémon Shuffle, Pokémon Rumble World, Pokémon Super Mystery Dungeon e agora Pokémon Picross. Porém, desses, pouquíssimos chamam atenção e pior: muitos deles são meros repetecos de fórmulas que deram certo no passado, com pouca novidade para apresentar. É alarmante quando os jogos de Nintendo 3DS que você mais quer jogar são na verdade versões portadas de títulos lançados originalmente para outros consoles, como Majora's Mask 3D e Xenoblade Chronicles 3D. Como o foco deste blog são os monstros de bolso, foquemos nos lançamentos da franquia para este ano.
Muito título, pouca novidade
Com as vendas fracas do Wii U e do Nintendo 3DS - cujas mais de 54 milhões de unidades vendidas empalidecem perto das quase 155 milhões do antecessor -, a empresa tem buscado outras formas de otimizar lucros em cima do que já está dando certo: DLCs cheias de conteúdo especial exclusivo (Link no Mario Kart 8, quem diria!), os amiibos (aceito amiibo do Charizard de presente de natal), promessa de jogos para dispositivos como smartphones, além de jogos gratuitos que encorajam microtransações. O primeiro a funcionar dessa forma foi Pokémon Shuffle, seguido de Pokémon Rumble World.
A ideia de você poder jogar gratuitamente certamente é ótima e ambos os jogos se tornaram bastante populares, especialmente Pokémon Shuffle após ter sua versão para dispositivos móveis lançada. Todavia, tanto Pokémon Shuffle quanto Pokémon Rumble World são variações de jogos que receberam lançamentos para o Nintendo 3DS não tem muito tempo. O primeiro é basicamente um Pokémon Battle Trozei, lançado ano passado para o portátil, com gráficos diferentes, mega evoluções e uma dinâmica de jogo adaptada para comportar as microtransações. Já o Pokémon Rumble World é o segundo da série Rumble a ser lançado em 3D. O primeiro, Pokémon Rumble Blast, foi lançado há alguns anos atrás, em 2011/2012.
Nem mesmo Pokémon Super Mystery Dungeon escapa do problema de reciclagem de ideia. Primeiro porque infelizmente Pokémon Mystery Dungeon - Gates to Infinity existe e enquanto as primeiras reações dos jogadores têm sido muitíssimo positivas - o título conta com uma nota 9.0, baseada em 98 avaliações no Metacritic -, com um grande número de pessoas afirmando ser o melhor da franquia, muitas dessas também notam que o jogo parece apenas fazer um trabalho de melhorar tudo o que foi feito anteriormente, sem contudo trazer grandes inovações.
Nesse sentido, Pokémon Picross, terceiro jogo no esquema de microtransações, parece ser o único que parece realmente uma novidade. Enquanto jogos picross - um subgênero de puzzle que mescla palavras cruzadas com imagens, também conhecido como nanograma - não são novidade, pelo menos não tivemos um título estrelando os monstros de bolso este ano. Todavia, a ideia parece ser um resgate de um outro Pokémon Picross, que fora anunciado em revistas japonesas para o Game Boy Color lá nos idos de 1999, contudo nunca sendo lançado no fim das contas. E as novidades já anunciadas para ano que vem são Pokkén Tornament e Pokémon Go. Enquanto o primeiro é basicamente um jogo de luta no estilo clássico com Pokémon (uma novidade na franquia, mas nada realmente inovador), Pokémon Go vai permitir que os jogadores usem seus smartphones para pegarem, batalharem e trocarem Pokémon.
Todavia, Pokémon Go promete inovar ao fundir os mecanismos dos jogos clássicos com realidade aumentada. Não é de fato a primeira vez que Pokémon insere tal tecnologia em seus jogos. Pokémon Dream Radar e Pokémon Mystery Dungeon - Gates to Infinity já fizeram isso. Porém, o diferencial é que o aplicativo para smartphone promete usar o GPS dos aparelhos para inserir diferentes Pokémon no mundo real, conforme o ambiente em que eles se encontram, o que é muitíssimo interessante. A ideia de várias pessoas indo fisicamente pegar seus Pokémon é ótima, assim como a forma como isso promete investir ainda mais em interações entre jogadores. Sem contar o forte apelo que a ideia teve com os fãs antigos ao exibir um trailer com um mundo habitado por monstros da primeira geração. Apesar disso, a ideia ainda é norteada pelos mesmos princípios de captura, batalha e troca.
Nos últimos anos, os jogos Pokémon parecem ter entrado num triste retrocesso. Enquanto Pokémon X & Y foram sim esteticamente lindos e os tipo Fada uma adição legal, a existência e função de muitas Mega Evoluções parecem não ter sido pensadas com o devido cuidado e a narrativa desses jogos foi simplesmente uma das piores já feitas para a franquia, uma queda imensa considerando as discussões que Black & White provocavam. E os tão aguardados Pokémon Omega Ruby & Alpha Saphhire são uma vergonha comparados aos remakes perfeitos que Pokémon HeartGold & SoulSilver Versions foram.
No campo dos spin-offs, é triste ver que não há nenhuma grande novidade, como nos anos anteriores e só reciclagens. Cadê uma nova série de jogos tão poderosa quanto (ou mais) Pokémon Mystery Dungeon ou Pokémon Ranger? Ou então por que os produtores se recusam a fazer um novo Pokémon Snap, quando ambos os consoles atuais da Nintendo são perfeitos para um game do gênero? Com ambos o Nintendo 3DS e Wii U sendo capazes de gráficos decentes (tantos jogos Nintendo ficam absolutamente lindos no Wii U!) para criar um mundo tridimensional dinâmico, vivo e bonito de se ver, a capacidade de compartilhamento de fotos nas redes sociais - e a Nintendo tendo sua própria rede social, o Miiverse -, e a possibilidade de interação online (imagine só desafios de fotografia sendo lançados online ou até mesmo eventinhos especiais destrancados com amiibo), por que a Game Freak tem deixado essa oportunidade passar? O que aconteceu com o ousado jogo do detetive Pikachu que estava em desenvolvimento e nunca mais se ouviu falar? É triste quando o último grande anúncio é simplesmente a chegada de Pokémon Red, Blue & Yellow à eshop do Nintendo 3DS.
Há meses os fãs vêm esperando edições mensais da Coro Coro para descobrir o que virá a seguir e encontrado apenas decepção em suas páginas. Se 2015 foi um ano triste para os fãs da Nintendo em geral - morte de Satoru Iwata, péssima apresentação na E3, Zelda e Star Fox adiados -, isso tem se refletido também em Pokémon. Enquanto eu realmente não queria um jogo novo este ano depois dos três anos seguidos que tivemos de lançamentos e da decepção de ORAS, eu de verdade já queria saber o que a Nintendo tem em mente para 2016. Com o anime já se adiantando e entrando numa "fase Z", será que ainda podemos contar com a existência de Pokémon Z? - eu sinceramente já não acredito que esse nome será utilizado. Afinal de contas, ano que vem Pokémon comemora 20 anos de existência e o mínimo que eu espero é uma forma digna de celebrar duas décadas da criação de Satoshi Tajiri. Que a Game Freak não nos decepcione!
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