XY069/ Episódio 873 - Uma Luta nas Zonas Úmidas! Goodra VS Florges!!
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XY070/ Episódio 874 - Conclusão! Goodra, Em Algum Lugar Além do Arco-Íris!!
Por que o "desenvolvimento" de Goomy falhou
Uma narrativa é construída dentro de três bases principais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Apesar de mais frequentemente relacionada à produção de texto, tal estrutura é válida para outras narrativas que não a textual, como filmes, séries e até video games - até porque, antes de serem feitos ou filmados, eles também vêm de um texto: o roteiro. Enquanto filmes e jogos costumam trazer narrativas mais fechadas - algo desafiado atualmente pela onda das eternas continuações -, quando se trata de produções seriadas, as histórias costumam ser construídas de duas formas paralelamente: a trama que se inicia e se encerra dentro de um único episódio e aquelas que se entendem por vários capítulos, resultando na construção de arcos de história. No XY055, deu-se início ao arco de Goomy e agora é a hora de ver sua conclusão… e eu não poderia estar mais decepcionado.
A parte da introdução do arco de Goomy foi muitíssimo bem feita: conhecemos um personagem incrivelmente cativante, com um passado misterioso. Não era preciso muito esforço para sacar que ele havia saído ferido de uma briga entre Pokémon selvagens na área que habitara e carregara alguns sérios traumas com isso. A introdução é importante não apenas para apresentar os elementos da história, mas também para gerar expectativa sobre o que será feito a partir daí e levantar questões. Tínhamos como potenciais ramificações da premissa, Goomy superando seus medos, aprendendo novos ataques, ficando mais forte e encarando seu passado. E, sim, quando chegamos à conclusão muitas dessas coisas se concretizaram: Goomy já é um Goodra, aprendeu três ataques novos e superou alguns de seus medos. Todavia, sua história deixou de se tornar uma trama instigante de superação e passou a se tornar o que deve ser, facilmente, o arco menos interessante que Pokémon XY desenvolveu até hoje (opa esqueci do Festival Twinleaf… sempre temos Festival Twinleaf). Talvez seja até errado em usar o termo "desenvolveu" porque o problema todo começa na falta de um.
Goomy aprendeu ataques novos e evoluiu, mas tudo isso sem fazer esforço algum. É impossível não pensar em Pokémon que conhecemos no passado como Larvitar, Gligar e, meu favorito de todos, Chimchar. Todos eles Pokémon que chegaram com problemas e pudemos acompanhar suas lutas para superar suas questões, em menor ou maior grau. Um dos fatores que tornam a épica luta entre Paul e Ash tão emocionante é ver Gliscor e Infernape entrando na arena contra o melhor rival, trazendo consigo toda aquela caminhada emocionante que acompanhamos para que eles chegassem até ali. É por isso que não houve uma sensação especial assim quando Goodra e Luxray entraram em campo, além daquela fornecida pela animação incrível. Eu não podia me importar menos com ambos - mas eu importava o suficiente com Ash e Clemont, o que certamente contribuiu.
Talvez, considerando como tudo ocorreu, o mais justo seria a comparação mesmo com o pequeno Pokémon Pele de Rocha. Em ambos os casos, o que temos são Pokémon afastados de seu lar sob circunstâncias estressantes e seguimos suas jornadas até o momento em que eles retornam ao seu lar. Porém, a forma como ambos foram trabalhados é extremamente diferente. Larvitar foi pego num momento em que Ash já tinha coletado suas oito Insígnias, logo a trama pôde focar totalmente nele. Ele ficou com os protagonistas por sete episódios: primeiro vimos Ash e Pikachu ganharem sua confiança em "Pegue-me Se Puder!", a partir do episódio seguinte vimos sua dificuldade em se sentir confortável com o mundo ao redor e se abrir com os outros Pokémon e pessoas ao seu redor, em especial Misty e Brock.
A partir de "A Coroação", ele começa a fazer amizades com alguns Pokémon por livre e espontânea vontade, em especial o Elekid em "A Amizade de Elekid!". No episódio seguinte, "Você É um Astro, Larvitar!", vemos o quão corajoso ele ficou ao ser capaz de salvar um grupo de Pokémon da Equipe Rocket praticamente sozinho. No Japão, este episódio foi chamado de "Larvitar Faz o Seu Melhor!". Curiosamente, "…Faz o Seu Melhor!" foi uma frase muito comum nos episódios que lidaram com o "desenvolvimento" de Goomy. Em seguida, tivemos o fantástico "Quem É Esse Unown?", que mostra Ash e cia viajando ao subconsciente de Larvitar e desvendando seu passado. É aqui que ele finalmente passa a confiar nos companheiros de viagem de Ash. E, por fim, pudemos vê-lo reencontrando sua mãe e ficando com ela no Monte Silver. Essa foi uma narrativa belíssima, com começo, meio e fim.
Por outro lado, a história de Goomy correu com várias tramas paralelas, como as evoluções de Luxio e Fennekin, o primeiro encontro com Aria, o drama de Jessie e a batalha de Ginásio em Lumiose, mas ele ficou com Ash por 16 episódios. Nesse meio tempo, o que vimos foi: ele ganhar coragem para defender Ash depois que este e seus Pokémon lutaram para protegê-lo da Equipe Rocket. Depois, o vimos ganhar coragem para defender Dedenne depois que este lutou para protegê-lo da Equipe Rocket. Depois, o vimos ganhar coragem para enfrentar um Grumpig - trabalhando para a Equipe Rocket - após Dedenne enfrentá-lo e perder, evoluindo e aprendendo um golpe novo no processo. E enfim, o vimos ganhar coragem para salvar Ash e cia de um incêndio causado pela Equipe Rocket, evoluindo e aprendendo um golpe novo no processo. Seus episódios se tornaram um looping eterno de "encontrar a coragem para proteger seus amigos" e enquanto isso está em sintonia com toda a sua trajetória, certamente chega o ponto em que simplesmente cansa.
A diferença mais crucial entre Larvitar e Goomy jaz no fato de que enquanto o Pokémon recém-nascido não tinha pressão alguma para se tornar um combatente, Goomy tinha - uma característica que automaticamente o aproxima mais de Gligar. Pode-se facilmente deduzir que os roteiristas planejavam inseri-lo na luta contra Luxray desde o princípio e talvez esta tenha sido a única razão para terem decidido colocá-lo com o Palletiano pra começo de conversa: a batalha de Ginásio contra Clemont. Nesse aspecto, é inexplicável não terem feito sequer um episódio nos moldes de "Enfrentando o Medo com Medo!", totalmente dedicado a Ash treinando Goomy para ser um Pokémon forte e autoconfiante, tal qual ele fizera com Gligar. Em vez disso, toma mais coragem para proteger seus amigos. É claro que não poderia terminar de forma diferente!
Por que a conclusão de Goodra falhou
Antes de ver esses dois episódios, eu já havia verificado que ambos foram escritos por Shinzo Fujita e uma fagulha de esperança havia acendido dentro de mim. É verdade que a história de Goomy já não me cativava - assim como o próprio Pokémon - e eu não estava muito feliz com os trabalhos mais recentes do moço (o retorno dos Malamar e a evolução de Sliggoo deixaram a desejar), mas eu ainda recordava com carinho dos seus sucessos na primeira temporada de Pokémon - A Série XY (a batalha contra Viola e a introdução de Malamar).
De fato, a "Uma Luta nas Zonas Úmidas! Goodra VS Florges!!" começa de forma promissora: é legal ver Goodra retornando ao seu antigo lar, reencontrando seus amigos - todos admirados com a força que ele adquirira - e temendo confrontar o seu passado, sendo encorajado pelo seu fiel Treinador. Sua amizade com Wooper é um dos pontos altos aqui, fortalecendo não apenas a ligação do grandão fofão de voz tosca com suas origens, mas também ajudando a tornar um pouquinho coerente, pelo menos, a decisão de Ash de deixá-lo para trás no fim do segundo episódio. O próprio confronto entre os Pokémon selvagens do local é bem bacana, tanto pela forma como a equipe de storyboard e animação faz um trabalho excelente na maneira como cada Pokémon se movimenta, quanto no próprio argumento de que Ash não deveria se envolver numa briga entre Pokémon selvagens.
O fato de que se tratava de uma briga por território também parecia bastante coerente, especialmente tendo Florges por trás de tudo. Nos jogos Pokémon X e Pokémon Omega Ruby, esse lado territorialista do Pokémon Jardim já era trazido à tona (é dito que ele toma magníficos jardins de flores para si), assim como a expressão de realeza transmitida por sua arte oficial, distanciando-o da gentileza de suas formas pré-evoluídas. O fato de não haver um lindo jardim por qual Florges devesse lutar poderia ser justificado pela própria existência da nascente com propriedades especiais no local. Sua água poderia servir para tornar a área propícia para o nascimento de um belo campo florido, talvez até para se cultivar as raras Flores-Fadas - como aquela do episódio "Em Busca da Flor-Fada!" -, beneficiando assim diversos Flabébé e Floette. Porém, se o maior defeito desses dois episódios é o roteiro falho de Fujita, a primeira cagada no pau começa no conteúdo das propriedades da tal nascente.
Segundo Kenzo - o personagem do dia que não vai além de cumprir sua função de explicador - a água que brota ali nas zonas úmidas serve para relaxar a mente e o corpo dos Pokémon. Porém, se isso é verdade, então por que a gangue de Florges, assim como a própria rainha da cocada preta, são tão incrivelmente agressivos e opressores, mesmo depois de começarem a ser expostos a ela? Se essa motivação por si só já não estivesse errada o bastante, Fujita vai além e comete o que talvez seja o maior erro do episódio todo: a inclusão da Equipe Rocket como os reais vilões da história.
A decisão é um grande erro porque, pra começar, é desnecessária. Goomy teve seus problemas com Florges e sua gangue, que chegaram de forma violenta e não só oprimiram a ele, mas também a seus amigos. Os Pokémon selvagens, por si só, já bastavam como antagonistas e o fato de que os próprios monstros deviam organizar o problema entre si já dava uma trama mais interessante do que envolver vilões humanos e seus finais clichês (claro que a Equipe Rocket decola e não consegue roubar a água no final). Além disso, em todos os episódios em que evoluiu ou superou alguma coisa, Goodra enfrentou a Equipe Rocket, então temos mais um maldito repeteco envolvendo o dragão. Sabendo que Fujita está conduzindo uma trama com um grupo de Malamar que dispensa envolvimento humano, eu sinceramente esperava mais.
O segundo problema de envolver a Equipe Rocket é a forma como Florges acaba vitimizada de forma incoerente. Ao final de "Uma Luta nas Zonas Úmidas! Goodra VS Florges!!", nos é revelado duas coisas: que a Equipe Rocket convenceu Florges de que Ash e cia eram maus e que a líder dos Pokémon selvagens tem o nobre objetivo de cuidar de seu filhote Floette ferido. Disso, surgem outras complicações. Obviamente, eu não tenho nada contra você dar a um personagem que tenha ações reprováveis motivações nobres. Acho isso bom e inclusive tira a divisão maniqueísta entre bom e mau e deixa um espaço para uma área acinzentada, que leva à uma reflexão, afinal eu mesmo sugeri: e se Florges quisesse fazer um jardim de Flores-Fadas naquela área para ajudar seus subordinados? Seria uma motivação nobre, bem justificada, mas que o Pokémon Jardim tentara obter por meios reprováveis.
A parte da introdução do arco de Goomy foi muitíssimo bem feita: conhecemos um personagem incrivelmente cativante, com um passado misterioso. Não era preciso muito esforço para sacar que ele havia saído ferido de uma briga entre Pokémon selvagens na área que habitara e carregara alguns sérios traumas com isso. A introdução é importante não apenas para apresentar os elementos da história, mas também para gerar expectativa sobre o que será feito a partir daí e levantar questões. Tínhamos como potenciais ramificações da premissa, Goomy superando seus medos, aprendendo novos ataques, ficando mais forte e encarando seu passado. E, sim, quando chegamos à conclusão muitas dessas coisas se concretizaram: Goomy já é um Goodra, aprendeu três ataques novos e superou alguns de seus medos. Todavia, sua história deixou de se tornar uma trama instigante de superação e passou a se tornar o que deve ser, facilmente, o arco menos interessante que Pokémon XY desenvolveu até hoje (opa esqueci do Festival Twinleaf… sempre temos Festival Twinleaf). Talvez seja até errado em usar o termo "desenvolveu" porque o problema todo começa na falta de um.
Goomy aprendeu ataques novos e evoluiu, mas tudo isso sem fazer esforço algum. É impossível não pensar em Pokémon que conhecemos no passado como Larvitar, Gligar e, meu favorito de todos, Chimchar. Todos eles Pokémon que chegaram com problemas e pudemos acompanhar suas lutas para superar suas questões, em menor ou maior grau. Um dos fatores que tornam a épica luta entre Paul e Ash tão emocionante é ver Gliscor e Infernape entrando na arena contra o melhor rival, trazendo consigo toda aquela caminhada emocionante que acompanhamos para que eles chegassem até ali. É por isso que não houve uma sensação especial assim quando Goodra e Luxray entraram em campo, além daquela fornecida pela animação incrível. Eu não podia me importar menos com ambos - mas eu importava o suficiente com Ash e Clemont, o que certamente contribuiu.
Talvez, considerando como tudo ocorreu, o mais justo seria a comparação mesmo com o pequeno Pokémon Pele de Rocha. Em ambos os casos, o que temos são Pokémon afastados de seu lar sob circunstâncias estressantes e seguimos suas jornadas até o momento em que eles retornam ao seu lar. Porém, a forma como ambos foram trabalhados é extremamente diferente. Larvitar foi pego num momento em que Ash já tinha coletado suas oito Insígnias, logo a trama pôde focar totalmente nele. Ele ficou com os protagonistas por sete episódios: primeiro vimos Ash e Pikachu ganharem sua confiança em "Pegue-me Se Puder!", a partir do episódio seguinte vimos sua dificuldade em se sentir confortável com o mundo ao redor e se abrir com os outros Pokémon e pessoas ao seu redor, em especial Misty e Brock.
A partir de "A Coroação", ele começa a fazer amizades com alguns Pokémon por livre e espontânea vontade, em especial o Elekid em "A Amizade de Elekid!". No episódio seguinte, "Você É um Astro, Larvitar!", vemos o quão corajoso ele ficou ao ser capaz de salvar um grupo de Pokémon da Equipe Rocket praticamente sozinho. No Japão, este episódio foi chamado de "Larvitar Faz o Seu Melhor!". Curiosamente, "…Faz o Seu Melhor!" foi uma frase muito comum nos episódios que lidaram com o "desenvolvimento" de Goomy. Em seguida, tivemos o fantástico "Quem É Esse Unown?", que mostra Ash e cia viajando ao subconsciente de Larvitar e desvendando seu passado. É aqui que ele finalmente passa a confiar nos companheiros de viagem de Ash. E, por fim, pudemos vê-lo reencontrando sua mãe e ficando com ela no Monte Silver. Essa foi uma narrativa belíssima, com começo, meio e fim.
Por outro lado, a história de Goomy correu com várias tramas paralelas, como as evoluções de Luxio e Fennekin, o primeiro encontro com Aria, o drama de Jessie e a batalha de Ginásio em Lumiose, mas ele ficou com Ash por 16 episódios. Nesse meio tempo, o que vimos foi: ele ganhar coragem para defender Ash depois que este e seus Pokémon lutaram para protegê-lo da Equipe Rocket. Depois, o vimos ganhar coragem para defender Dedenne depois que este lutou para protegê-lo da Equipe Rocket. Depois, o vimos ganhar coragem para enfrentar um Grumpig - trabalhando para a Equipe Rocket - após Dedenne enfrentá-lo e perder, evoluindo e aprendendo um golpe novo no processo. E enfim, o vimos ganhar coragem para salvar Ash e cia de um incêndio causado pela Equipe Rocket, evoluindo e aprendendo um golpe novo no processo. Seus episódios se tornaram um looping eterno de "encontrar a coragem para proteger seus amigos" e enquanto isso está em sintonia com toda a sua trajetória, certamente chega o ponto em que simplesmente cansa.
A diferença mais crucial entre Larvitar e Goomy jaz no fato de que enquanto o Pokémon recém-nascido não tinha pressão alguma para se tornar um combatente, Goomy tinha - uma característica que automaticamente o aproxima mais de Gligar. Pode-se facilmente deduzir que os roteiristas planejavam inseri-lo na luta contra Luxray desde o princípio e talvez esta tenha sido a única razão para terem decidido colocá-lo com o Palletiano pra começo de conversa: a batalha de Ginásio contra Clemont. Nesse aspecto, é inexplicável não terem feito sequer um episódio nos moldes de "Enfrentando o Medo com Medo!", totalmente dedicado a Ash treinando Goomy para ser um Pokémon forte e autoconfiante, tal qual ele fizera com Gligar. Em vez disso, toma mais coragem para proteger seus amigos. É claro que não poderia terminar de forma diferente!
Por que a conclusão de Goodra falhou
Antes de ver esses dois episódios, eu já havia verificado que ambos foram escritos por Shinzo Fujita e uma fagulha de esperança havia acendido dentro de mim. É verdade que a história de Goomy já não me cativava - assim como o próprio Pokémon - e eu não estava muito feliz com os trabalhos mais recentes do moço (o retorno dos Malamar e a evolução de Sliggoo deixaram a desejar), mas eu ainda recordava com carinho dos seus sucessos na primeira temporada de Pokémon - A Série XY (a batalha contra Viola e a introdução de Malamar).
De fato, a "Uma Luta nas Zonas Úmidas! Goodra VS Florges!!" começa de forma promissora: é legal ver Goodra retornando ao seu antigo lar, reencontrando seus amigos - todos admirados com a força que ele adquirira - e temendo confrontar o seu passado, sendo encorajado pelo seu fiel Treinador. Sua amizade com Wooper é um dos pontos altos aqui, fortalecendo não apenas a ligação do grandão fofão de voz tosca com suas origens, mas também ajudando a tornar um pouquinho coerente, pelo menos, a decisão de Ash de deixá-lo para trás no fim do segundo episódio. O próprio confronto entre os Pokémon selvagens do local é bem bacana, tanto pela forma como a equipe de storyboard e animação faz um trabalho excelente na maneira como cada Pokémon se movimenta, quanto no próprio argumento de que Ash não deveria se envolver numa briga entre Pokémon selvagens.
O fato de que se tratava de uma briga por território também parecia bastante coerente, especialmente tendo Florges por trás de tudo. Nos jogos Pokémon X e Pokémon Omega Ruby, esse lado territorialista do Pokémon Jardim já era trazido à tona (é dito que ele toma magníficos jardins de flores para si), assim como a expressão de realeza transmitida por sua arte oficial, distanciando-o da gentileza de suas formas pré-evoluídas. O fato de não haver um lindo jardim por qual Florges devesse lutar poderia ser justificado pela própria existência da nascente com propriedades especiais no local. Sua água poderia servir para tornar a área propícia para o nascimento de um belo campo florido, talvez até para se cultivar as raras Flores-Fadas - como aquela do episódio "Em Busca da Flor-Fada!" -, beneficiando assim diversos Flabébé e Floette. Porém, se o maior defeito desses dois episódios é o roteiro falho de Fujita, a primeira cagada no pau começa no conteúdo das propriedades da tal nascente.
Segundo Kenzo - o personagem do dia que não vai além de cumprir sua função de explicador - a água que brota ali nas zonas úmidas serve para relaxar a mente e o corpo dos Pokémon. Porém, se isso é verdade, então por que a gangue de Florges, assim como a própria rainha da cocada preta, são tão incrivelmente agressivos e opressores, mesmo depois de começarem a ser expostos a ela? Se essa motivação por si só já não estivesse errada o bastante, Fujita vai além e comete o que talvez seja o maior erro do episódio todo: a inclusão da Equipe Rocket como os reais vilões da história.
A decisão é um grande erro porque, pra começar, é desnecessária. Goomy teve seus problemas com Florges e sua gangue, que chegaram de forma violenta e não só oprimiram a ele, mas também a seus amigos. Os Pokémon selvagens, por si só, já bastavam como antagonistas e o fato de que os próprios monstros deviam organizar o problema entre si já dava uma trama mais interessante do que envolver vilões humanos e seus finais clichês (claro que a Equipe Rocket decola e não consegue roubar a água no final). Além disso, em todos os episódios em que evoluiu ou superou alguma coisa, Goodra enfrentou a Equipe Rocket, então temos mais um maldito repeteco envolvendo o dragão. Sabendo que Fujita está conduzindo uma trama com um grupo de Malamar que dispensa envolvimento humano, eu sinceramente esperava mais.
O segundo problema de envolver a Equipe Rocket é a forma como Florges acaba vitimizada de forma incoerente. Ao final de "Uma Luta nas Zonas Úmidas! Goodra VS Florges!!", nos é revelado duas coisas: que a Equipe Rocket convenceu Florges de que Ash e cia eram maus e que a líder dos Pokémon selvagens tem o nobre objetivo de cuidar de seu filhote Floette ferido. Disso, surgem outras complicações. Obviamente, eu não tenho nada contra você dar a um personagem que tenha ações reprováveis motivações nobres. Acho isso bom e inclusive tira a divisão maniqueísta entre bom e mau e deixa um espaço para uma área acinzentada, que leva à uma reflexão, afinal eu mesmo sugeri: e se Florges quisesse fazer um jardim de Flores-Fadas naquela área para ajudar seus subordinados? Seria uma motivação nobre, bem justificada, mas que o Pokémon Jardim tentara obter por meios reprováveis.
Além disto, a própria doença do Floette não faz sentido. É dito - e confirmado - que Florges dominou a área e expulsou os Pokémon que ali habitavam para tomar posse da fonte que relaxa o corpo e o espírito dos Pokémon para curar seu filhote doente - sim, ela também tem propriedades curativas. Porém, Floette ainda está doente. Mas há quanto tempo Floette está doente afinal? Nesse meio tempo, Goomy saiu das zonas úmidas, encontrou Ash, evoluiu, ficou mais forte, regressou às zonas úmidas e Floette ainda está doente?
O pior é que a Equipe Rocket clama ser a responsável por causar a demora na recuperação do filhote, já que eles estão drenando a água da fonte secretamente enquanto enrolam Florges - algo reforçado pela recuperação miraculosamente rápida do filhote depois que os vilões decolam de novo e o Pokémon Jardim e o Pokémon Dragão recuperam a área danificada pelos atos dos bandidos. Se o anime ainda tivesse dispensado a Equipe Rocket de sua amolação usual ao longo desse arco - como fizeram em tantos momentos em Best Wishes! - para fazê-los retornar aqui e explicar seu sumiço, teria feito sentido, mas nós vimos a Equipe Rocket diversas vezes desde que Goomy apareceu, logo eles não poderiam estar em dois lugares ao mesmo tempo. É claro que também existe a possibilidade muito real de Floette ter melhorado entre a saída de Goomy e a chegada dos Rockets, e piorado outra vez por causa dos vilões, mas isso ainda não justifica toda a maldade com a qual Florges e seu grupo atacaram os Pokémon do brejo.
O pior é que a Equipe Rocket clama ser a responsável por causar a demora na recuperação do filhote, já que eles estão drenando a água da fonte secretamente enquanto enrolam Florges - algo reforçado pela recuperação miraculosamente rápida do filhote depois que os vilões decolam de novo e o Pokémon Jardim e o Pokémon Dragão recuperam a área danificada pelos atos dos bandidos. Se o anime ainda tivesse dispensado a Equipe Rocket de sua amolação usual ao longo desse arco - como fizeram em tantos momentos em Best Wishes! - para fazê-los retornar aqui e explicar seu sumiço, teria feito sentido, mas nós vimos a Equipe Rocket diversas vezes desde que Goomy apareceu, logo eles não poderiam estar em dois lugares ao mesmo tempo. É claro que também existe a possibilidade muito real de Floette ter melhorado entre a saída de Goomy e a chegada dos Rockets, e piorado outra vez por causa dos vilões, mas isso ainda não justifica toda a maldade com a qual Florges e seu grupo atacaram os Pokémon do brejo.
Ainda que Fujita quisesse seguir com a trama da mãe tomando medidas desesperadas para proteger seu filhote e botar a culpa em outros agentes, por que não usar outros vilões? Já vimos o Contrabandista Pokémon, o Caçador Pokémon e, mais recentemente, Belmondo. Por que então não criar um outro vilão que estivesse pressionando Florges todo esse tempo e impedindo a cura do seu filhote? Teria dado a Florges um motivo justificável e a fonte de não pareceria ter tão dúbia eficácia. Também me parece um tanto incoerente Florges confiar na Equipe Rocket - inclusive deixando-os se aproximar de seu filhote - quando fora incapaz de confiar nos Pokémon nitidamente mais amigáveis que habitavam as zonas úmidas, mas dou uma colher de chá porque o anime faz parecer que foi a Equipe Rocket quem resgatou Florges e seus amigos do primeiro confronto contra Goodra. Dessa forma, "Conclusão! Goodra, Em Algum Lugar Além do Arco-Íris!!" se torna um episódio construído sobre uma premissa extremamente mal-elaborada.
Há pontos positivos, não vou negar. E se o ponto forte do primeiro episódio é o conflito entre Pokémon, o do segundo certamente são suas cenas de ação, muitíssimo bem escritas e animadas. Todos os muitos momentos de ação foram caprichados, como Goodra usando o Pulso do Dragão no chão para chegar à nave da Equipe Rocket e a perfeita sequência de destruição da nave, que envolve os reservatórios da água roubada explodindo aos poucos e então causando uma grande explosão que lança Ash, Goodra e Florges ao chão. Aliás, também vale dizer que os animadores fizeram um trabalho muito bom com os chifres extremamente flexíveis do Pokémon gosmento, um mérito não somente deste episódio, mas também dos demais em que ele participara. A animação do Terreno de Grama de Florges também ficou belíssima, assim como os cenários, em especial a gruta da nascente habitada pelo Pokémon Jardim. Havia uma linha torta aqui e ali, é verdade, mas erros pequenos perto de tantos outras cenas tão lindas.
Outro mérito dos episódios é nos mostrar um momento raro em que Clemont e Serena tomam a frente na ação juntos, com direito a Braixen arrasando por um breve momento, antes de o episódio abandonar os dois Treinadores e qualquer possibilidade de interação significativa entre eles em prol de Ash e Goodra. Todavia, se tem um momento de interação que realmente vale a pena aqui este fica reservado para a amizade entre o Pokémon Dragão e Dedenne. O momento em que o roedor feérico salta para abraçar seu amigo e começa a chorar é de cortar o coração e incrivelmente fofo ao mesmo tempo e foi a única coisa capaz de realmente me fazer sentir alguma coisa na hora do adeus - talvez porque tenha sido a única característica de Goomy que os roteiristas realmente se empenhado em desenvolver.
Verdade seja dita: eu não esperava que Goodra fosse embora logo que foi capturado - ainda que muitos de vocês já tivessem sacado e inclusive me alertado a respeito logo de cara. O fato de ele ter sido oficialmente colocado numa Pokébola por Ash e sua motivação de treinar e ficar mais forte me fizeram crer que assim que o mistério de seu passado fosse resolvido, ele ficaria com o Palletiano. Uma vez que as evoluções rápidas aconteceram e a presença de uma Florges controlando os Pokémon selvagens chegou ao meu conhecimento, eu compreendi que seria mais um caso Pidgeot: uma criatura ficando para trás para proteger Pokémon indefesos. Todavia, uma vez que Fujita decidiu inocentar Florges, colocando-a numa postura de vítima, e então mostrá-la, ao final, fazendo as pazes e celebrando a vitória com seus subordinados e os Pokémon que oprimira como se nada tivesse acontecido, já não justificava deixar Goodra protegendo a galera das zonas úmidas porque eles não precisam mais - eles têm um exército de Pokémon selvagens agora - e em todos essas semanas com Ash, ele nem sequer demonstrava sentir saudade dos seus amigos!
Ainda assim, Ash decidir, sem consultar seus Pokémon, o que é melhor para eles é um de seus defeitos mais indignos e antigos, logo se a real necessidade de proteção é questionável, a atitude do Palletiano diante deste momento não é - afinal, vimos Charizard, Pidgeot, Gliscor… e até Pikachu passando pela mesma resenha. No fim das contas, não houve tanto para eu lamentar depois de já estar infeliz com o desenvolvimento que Goodra vinha recebendo há semanas. Todavia, eu devo dizer que, pelo menos, sua trajetória me causou duas felicidades sinceras: no fim das contas, vê-lo partir me causou tanta alegria quanto sua chegada. Ou será que estou confundindo alegria de sua partida com… alívio?
Considerações finais:
Outro mérito dos episódios é nos mostrar um momento raro em que Clemont e Serena tomam a frente na ação juntos, com direito a Braixen arrasando por um breve momento, antes de o episódio abandonar os dois Treinadores e qualquer possibilidade de interação significativa entre eles em prol de Ash e Goodra. Todavia, se tem um momento de interação que realmente vale a pena aqui este fica reservado para a amizade entre o Pokémon Dragão e Dedenne. O momento em que o roedor feérico salta para abraçar seu amigo e começa a chorar é de cortar o coração e incrivelmente fofo ao mesmo tempo e foi a única coisa capaz de realmente me fazer sentir alguma coisa na hora do adeus - talvez porque tenha sido a única característica de Goomy que os roteiristas realmente se empenhado em desenvolver.
Verdade seja dita: eu não esperava que Goodra fosse embora logo que foi capturado - ainda que muitos de vocês já tivessem sacado e inclusive me alertado a respeito logo de cara. O fato de ele ter sido oficialmente colocado numa Pokébola por Ash e sua motivação de treinar e ficar mais forte me fizeram crer que assim que o mistério de seu passado fosse resolvido, ele ficaria com o Palletiano. Uma vez que as evoluções rápidas aconteceram e a presença de uma Florges controlando os Pokémon selvagens chegou ao meu conhecimento, eu compreendi que seria mais um caso Pidgeot: uma criatura ficando para trás para proteger Pokémon indefesos. Todavia, uma vez que Fujita decidiu inocentar Florges, colocando-a numa postura de vítima, e então mostrá-la, ao final, fazendo as pazes e celebrando a vitória com seus subordinados e os Pokémon que oprimira como se nada tivesse acontecido, já não justificava deixar Goodra protegendo a galera das zonas úmidas porque eles não precisam mais - eles têm um exército de Pokémon selvagens agora - e em todos essas semanas com Ash, ele nem sequer demonstrava sentir saudade dos seus amigos!
Ainda assim, Ash decidir, sem consultar seus Pokémon, o que é melhor para eles é um de seus defeitos mais indignos e antigos, logo se a real necessidade de proteção é questionável, a atitude do Palletiano diante deste momento não é - afinal, vimos Charizard, Pidgeot, Gliscor… e até Pikachu passando pela mesma resenha. No fim das contas, não houve tanto para eu lamentar depois de já estar infeliz com o desenvolvimento que Goodra vinha recebendo há semanas. Todavia, eu devo dizer que, pelo menos, sua trajetória me causou duas felicidades sinceras: no fim das contas, vê-lo partir me causou tanta alegria quanto sua chegada. Ou será que estou confundindo alegria de sua partida com… alívio?
Considerações finais:
- Este texto chegou com dificuldades porque estou lotado de trabalho na escola e ainda tive problemas com as costas e fiquei viciado numa tal de Sense8 do Netflix (já quero segunda temporada!);
- Fiel à sua trajetória de incoerências, Goodra aprende aleatoriamente um golpe novo durante seu confronto contra Florges: Raio de Gelo! Sério: pra quê? =P
- Acho bizarro como os Swanna simplesmente somem depois dos ataques da gangue de Florges, deixando todo mundo se ferrando lá embaixo, especialmente se considerarmos que a maioria dos adversários eram Pokémon Insetos, ou seja, os Swanna deveriam ter alguma vantagem aqui, mas kd???
- Gente, que dó infinita do Dedenne querendo chorar depois que a comida dele é derrubada;
- A sequência toda da chegada da trupe de Florges foi muito bem feita e aterrorizante, especialmente por também nos revelar como foi que Goomy foi parar em cima dos Swanna;
- Não importa o quanto o anime queira terminar o episódio dizendo que está tudo bem, Florges só queria proteger seu filhote e agora todos podem viver em paz porque NADA justifica deixar dois Gulpin ardendo nas chamas daquele jeito! =O
- A BGM que toca enquanto Ash faz a vigília sobre Goodra, refletindo sobre o quanto ele gosta de seus amigos, enquanto os outros dormem ficou ótima naquela cena;
- É também muito legal como Clemont percebe os ataques atingiram Goodra por último e faz uma investigação sacando tudo!
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