domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sir Charithoughts: Pokémon XY 014

Com atrasos - desta vez não foi só culpa minha, mas demoraram muito pra legendar esse episódio nossa! -, mas finalmente ficou pronto o novo charithought! \\o//

#XY014/#818 – O Sinistro Abrigo da Chuva! Espurr Viu Tudo!!

Eu já tava com saudade da empolgação de assistir a um episódio novo de Pokémon! “O Sinistro Abrigo da Chuva! Espurr Viu Tudo!!” pode não ser uma resposta a basicamente nenhuma das minhas várias preocupações atuais referentes a Pocket Monsters XY – a trama não moveu um passo em relação à Serena, por exemplo –, mas ainda assim foi um episódio bastante agradável, contendo momentos que são engraçados, outros que chegam até a dar um medinho (se você tem um coração assustadiço como o meu) e até umas lágrimas consegue arrancar (se você tem um coração mole como o meu). Também convenhamos que apesar dos vacilos constantes, Pokémon nunca(?) erra quando aborda uma temática mais sinistra, e quando você coloca uma cria de satanás como Espurr para estrelar um episódio, você simplesmente não pode errar.



Talvez por essa razão este episódio tenha uma parte técnica IMPECÁVEL. Digna dos melhores episódios de XY até agora, a animação se utiliza de vários elementos comuns a filmes de terror para contar sua narrativa e fugir do lugar-comum à série. O título do episódio aparece, pela primeira vez em Pokémon desde o primeiríssimo episódio de 1997, fora de uma tela de título, mas sobre o cenário do episódio numa fonte diferente – elemento este que eu espero MUITO que seja mantido na versão ocidental pela The Pokémon Company International (TPCI) – o Pokémon Quiz também sofre uma leve modificação com a voz perguntando sobre qual é a imagem correspondente soando bem sinistra e gutural. O episódio se utiliza de diversos ângulos e movimentos de câmera e iluminação não-comuns à série para tornar sua narrativa interessante e um tanto quanto assustadora.  
 

Entretanto, tais instrumentos são utilizados bastante na primeira parte do episódio, com o retorno do Pokémon Quiz usual ditando a volta ao modelo tradicional da série em sua segunda parte, que traz uma baita virada na história. Uma virada que se não fosse bem executada poderia ter feito todo o trabalho perfeito realizado na primeira parte ser desperdiçado, mas felizmente as coisas foraaaam muuuuito bem.

Yukiyoshi Ohashi (o mesmo de “A Tosadora Pokémon e Furfrou”) teve sua primeira experiência com episódios assustadores em Pokémon com “Susto na Mansão de Litwick!”, um dos poucos episódios que eu gosto de Best Wishes!. Assim como no episódio de BW, uma chuva torrencial força nossos heróis a se abrigarem numa mansão aparentemente abandonada (eu sei que essa ideia da mansão já foi reciclada milhões de vezes desde “A Mansão Misteriosa do Ditto” e não um padrão exclusivo de Ohashi), mas coisas estranhas e misteriosas começam a acontecer. Enquanto a animação é impecável e ousado, o roteiro é um pouquinho menos – até menos que o do episódio dos Litwick, por exemplo, – mas ainda assim bastante eficaz.

O mais interessante talvez seja a repetição da dinâmica “menino cético, menina supersticiosa” que tinha garantido alguns dos melhores momentos de Best Wishes!. Enquanto eu gosto sim da dinâmica entre Cilan e Íris – ao menos até onde eu assisti –, eu simplesmente ODIARIA ver uma repetição dela em XY pelo simples fato de enxergar essas repetições como comodismo demais, isso sem contar que já tivemos repetições DEMAIS no episódio anterior. Não podemos ignorar o fato também de que eu tenho pesadelos em que Clemont e Serena se tornam os novos Cilan e Íris, por isso quanto mais diferentes eles forem melhor.

Felizmente, Ohashi toma cuidado para tornar Clemont e Serena personagens distintos. Diferente dos coprotagonistas de BW, Clemont e Serena não são duas crianças disputando suas teorias; Clemont dá suas explicações lógicas para o problema pelo simples fato de estar assustadíssimo e não querer acreditar que esteja mesmo dentro de uma mansão mal-assombrada, além de acalmar os demais, no processo, ao passo que Serena só está sendo honesta sobre o que ela acha que está acontecendo, para se arrepender em seguida ao ver que só tornou a situação toda pior. Foram situações bastante engraçadas e as interações dos personagens bem legais. E eu também adoro como Bonnie é a única que não se assusta com todas as coisas possivelmente sobrenaturais, mas só com os trovões e tal.

Outro aspecto técnico que eu já ia esquecendo é a trilha sonora do episódio. Todas as músicas usadas no episódio mais os momentos de silêncio são muito bem orquestrados – e eu ficaria muito feliz se a TPCI não mexesse nessa parte também. Enfim, depois de muito trovão, porta trancando sozinha, sons sinistros ecoando pelos corredores e aparições misteriosas, o responsável por tudo, o Espurr do pingente, é finalmente revelado para o quarteto de protagonistas, que logo decidem segui-lo (na verdade, é a pequena Bonnie a exploradora quem decide segui-lo e os outros vão atrás desesperados =P). Logo Espurr começa a brincar com Bonnie e por um momento eu achei que ia ser aquele tipo de episódio, sabe, em que o Pokémon que quer fazer amizade tenta isso da PIOR forma o possível (estou pensando em você, Snover solitário ¬¬)

Felizmente, é impossível até para um chato como eu achar ruim uma cena da Bonnie brincando com o Espurr quando a equipe de animação – novamente ela – faz um trabalho tão lindo que faz o Espurr assustador de minutos antes se tornar uma criatura linda que dá vontade de apertar. Em seguida, toda a galera dispersa na mansão finalmente se encontra, incluindo a Equipe Rocket, o que é ótimo porque assim Meowth pode traduzir algo que Espurr tentara contar Bonnie, mas ela não conseguiu entender. E é aí que a história que até então era assustadora e horripilante se torna uma história triste e linda: a mansão pertencia a uma senhora que morava sozinha e aparentemente decidiu decorar a casa com retratos de si mesma por alguma razão (vaidade? Pra ter com quem conversar? Promoção "pague um, leve dois"? Tinha esquecido que no saguão de entrada já tinha um?).

Um belo dia, o Espurr conheceu essa senhora – revelada posteriormente ser Lisa e ela lhe deu comida, carinho, brincou com ele e eles logo se tornaram muito queridos um para o outro, mas a mulher de idade já muito avançada já mostrava sinais de que não estava muito bem de saúde. Depois de um dia de brincadeira, ela lhe deu seu pingente e Espurr foi embora, recebendo um convite para retornar. Um belo dia, o Pokémon Contenção voltou à mansão trazendo uma linda flor para sua nova amiga, mas não a encontrou. Desde então ele tem habitado a mansão na esperança de revê-la, e trancou Ash e os demais na mansão com o objetivo de se aproximar deles e saber se eles poderiam ajudar a descobrir o paradeiro da senhora.

Eu simplesmente adoro como o esquema da segunda parte do episódio é bastante contrastante com a primeira. O clima de terror e suspense é substituído por um clima mais doce e sentimental. O flashback que revela a história de Espurr, por exemplo, é bem lindo e deixa bem claro de forma bem sutil o destino da senhora, mas é legal notar como do ponto de vista dos protagonistas assumir que ela faleceu é difícil porque o Espurr não fazia ideia do estado de saúde dela, logo não pôde relatá-la aos personagens (além do fato de ninguém gostar de supor que alguém morreu como primeira alternativa). Fica uma informação exclusiva para o telespectador, que sofre com a incapacidade de quebrar a quarta parede e avisar aos personagens o que realmente aconteceu. É também impressionante notar como Espurr passa de terrivelmente macabro para a coisinha mais abraçável do mundo em questão de uns segundinhos – sério, equipe de animação que eu sei que leem meus charithoughts, slow clap pra vocês!

Enquanto alguns episódios de Pokémon sofrem para preencher os 22 minutos de duração, este tinha até coisa sobrando para abordar! E mal Espurr se livra da Equipe Rocket com todo o seu poder – ATÉ QUE ENFIM ASH NÃO PRECISOU SALVAR O DIA DE NOVO – e os pirralhos começam a se articular para encontrar o paradeiro da senhora, aos 45 do segundo tempo chega um elemento surpresa: a neta de Lisa, Ellie! Particularmente, esse foi outro momento que eu pensei “Ixi, cagaram tudo!”.

Mas é até compreensível. O episódio tinha que acabar afinal e não tinha mais tempo de mostrar eles indo procurar a velha pra descobrir o que nós já sabíamos – apesar de que uma segunda parte bem-feita assim poderia ter rendido um outro episódio maravilhoso –, e felizmente, por mais que a chegada da neta tenha sido uma grande "coincidência" – apesar de super bem animada e dessa forma, o episódio tenha uma conclusão bastante abrupta, os animadores continuam salvando o dia enchendo Espurr de muita emoção. Ver a expressão devastada dele ao descobrir que sua amiga faleceu e depois ela mudar completamente para felicidade ao ser convidado para ir ao túmulo de sua velha amiga para se despedir são momentos belos, novamente pela sutileza. Uma lágrima escorreu do meu olho. É sério, gente. Eu tenho um coração muito mole pra essas coisas.



Morte é um eterno tabu na série, especialmente depois que esta passou a ser feita levando em consideração também o mercado ocidental (até hoje termos como “morreu” ou “morte” são omitidos em algumas animações nos EUA por alguma razão imbecil, por exemplo), mas eu sempre fico feliz de ver quando o anime sai do seu confortável assento e tenta algo realmente diferente com seus personagens. Neste caso, Ohashi também merece elogio por ter criado uma conclusão completamente diferente para um episódio que começou bastante similar a “Susto na Mansão de Litwick” e também por ter tirado um pouco da atenção de Ash, depois de três episódios seguidos com essa vertente. Essa segunda dezena de episódios de Pocket Monsters XY estava mesmo necessitando nos lembrar por que todos ficamos encantados por esses monstros de bolso, como a primeira dezena fez tão bem.

Considerações finais:
  • Pra quem não lembra ou não assistiu ao “Susto na Mansão de Litwick!”, no final os Litwick ficaram fortes de tanto absorverem energia vital da Equipe Rocket e abriram um portal do além e quase sugou todo mundo pra lá;
  • Não que ninguém tenha perguntado, mas Espurr é um dos meus TOP 10 Pokémon favoritos da 6ª Geração;
  • É legal ver como um detalhe muito bacana sobre Espurr dito nos jogos foi mantido no anime – e inclusive mencionado pela Pokédex do anime – sobre o fato de ele ter poder sobre tudo ao redor de uma área de mais 90 metros. Ele manipula tudo pela casa usando seu poder psíquico, ao mesmo tempo em que mantém a casa toda protegida – James não pôde quebrar a janela, por exemplo –, então eu não fiquei nem um pouco surpreso quando ele se soltou da Semente Sanguessuga de Pumpkaboo. Eu sabia que eles iam se ferrar MUITO. Minha surpresa teria sido ele não fazer nada. Espurr é foda, gente, simplesmente;
  • É de partir o coração se você pensar que a senhora deu seu pingente ao Espurr pressentindo que sua morte estava próxima :'(
  • Olha, eu AMEI o episódio, mas por razões que vocês todos sabem eu teria amado se tivessem colocado a Serena para fazer amizade com o bichinho na segunda parte e então pegá-lo. Espurr é tão fofo e lindo que eu queria muito que ele continuasse a aparecer, mas eu acho que o final do anime foi o melhor analisando de um ponto de vista imparcial que eu não tenho;
  • Apesar dos episódios fracos recentes de Pocket Monsters XY, a audiência do anime tem ficado ilesa. Este excelente episódio de Espurr conquistou dignos 5,7 pontos de audiência, a terceira subida consecutiva na audiência da série!
  • Eu mencionei o Snover solitário do patético episódio de DP "O Snover Solitário!" (não diga!). Foi também o primeiro episódio de toda a série em HD e widescreen e tal, mas era sobre um Snover que muita gente achou fofo, mas eu só achei ridículo, que prendeu Ash e cia em raízes do seu Enraizar (Ingrain) pra ver se conseguia fazer amizade com eles e no final foi embora com uma professorinha e seus aluninhos arrrgh!
  • Eu acho muito engraçado como a Equipe Rocket fica feliz em decolar porque assim eles finalmente saíram da mansão sinistra;
  • Tem um post no tumblr que foca muito bem na parte final e mais emocionante do episódio. Vale uma conferida. Eles inclusive falam do significado da flor que Espurr leva para a senhora. Segundo eles, a flor é uma anêmona que, na linguagem das flores, possui muitos significados que se aplicam à história: a anêmona em geral significa "ser abandonado" ou que a vida é passageira, enquanto uma anêmona roxa aparentemente significa uma expectativa cheia de esperança, que no caso do Espurr simbolizaria seu anseio por reencontrar sua querida amiga;
  • Ainda não assisti ao último episódio exibido no Japão, claro, mas fiquei decepcionado com a galera que eu sigo no tumblr pela dificuldade que tive em encontrar gifs do episódio do Espurr e já achar um monte do episódio do Chespin guloso. E, sim, eu pesquisei nos históricos desses tumblrs;
  • Apesar de não ser nada parecido com nenhum arco específico dos jogos, o episódio parece alguns elementos dos jogos XY. A mansão abandonada assustadora no meio da floresta tem sido facilmente ligada a Scary House da Route 14 de Kalos (ainda que como eu já disse antes, mansões abandonadas no meio de florestas são um tema recorrente em Pokémon). Já a história de Lisa, uma pessoa idosa que brinca com um Pokémon antes de morrer, parece se inspirar na historinha MUITO TRISTE de um homem que habita uma casa em Anistar City. Ele te pede para você deixar um Pokémon seu de nível baixo com ele para que ele possa brincar desde que ele tem se sentido sozinho e triste desde que sua amada esposa morreu. Quando você retorna para a cidade para ver como está seu Pokémon, após derrotar a Elite 4, o homem terá desaparecido e você só encontrará a Pokébola de seu Pokémon junto com o bilhete, no qual o homem lhe agradece por ter compartilhado seu Pokémon com ele em seus últimos momentos e lhe deixa um Comet Shard como agradecimento;
Imagens: filb.de e tumblr

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