sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sir Charithoughts: Pokémon - A Origem - Parte 3

Sim, os meus "muito em breve" podem indicar um tempo maior que provavelmente você espera, mas finalmente a terceira parte do meu Charithought de Pokémon - A Origem. A parte final vai demorar mais um cadinho.
E para aqueles que só querem saber de Pokémon XY, não se preocupem. Ainda este fim de semana escreverei (e talvez publicarei) o Charithought referente ao XY 016.
Clicando aqui você também pode ler as Partes 1 e 2 caso ainda não tenha ^^
Um grande abraço e até a próxima =D

Pokémon – A Origem
Parte 3 de ???
Salvamento 3: Giovanni

Giovanni é um personagem relativamente fácil de se escrever. Nos jogos, ele foi criado baseado nos chefes de facção Yakuza no Japão – tendo esta referência sido redirecionada aos chefões de máfias, em especial a italiana, para o público ocidental. No anime clássico, adicionou-se a isso um elemento a la Ernst Stavro Blofeld, um supervilão da franquia James Bond comum nos filmes nos anos 60, cuja primeira aparição foi em Moscou Contra 007 (From Russia with Love, 1963) – algumas pessoas consideram que a inspiração foi na verdade o Dr. Garra do desenho Inspetor Bugiganga (Inspector Gadget, 1983-1986), mas esse vilão foi inspirado no de James Bond então dá no mesmo. Não importa a origem ou inspiração, Giovanni é essencialmente um inescrupuloso, ganancioso e maligno chefe de uma organização criminosa – e isso é basicamente tudo o que você precisa saber sobre ele.



Apesar de inicialmente ter dado ao personagem uma abordagem relativamente digna de um vilão, com direito a rosto nas sombras e voz irreconhecível (no ocidente apenas), com o tempo o anime tradicional acabou levando Giovanni bem menos a sério. Seus agentes constantemente cometendo erros, ou agindo de forma infantil, cenas como a dele tomando sol na praia ou qualquer uma das centenas de fantasias da mente perturbada de Meowth serviram para diminuir a ameaça que o personagem realmente representava ao longo dos anos. Inicialmente, a série Best Wishes! parecia disposta a retomar a importância do personagem e isso acabou funcionando em parte, mesmo depois do imenso prejuízo sofrido nessa trama como consequência dos terríveis terremotos, tsunamis e desastres nucleares que abalaram impiedosamente o Japão em março de 2011, há quase três anos atrás.

Pokémon – A Origem era uma nova chance de fazer as coisas de maneira “correta” – que fique claro que de forma alguma eu acho que o anime tradicional lidou com o Giovanni de maneira errada, só não foi tão fiel à ideia dos jogos. De fato, o especial consegue dar mais seriedade ao líder do Team Rocket e à organização como um todo. No salvamento anterior, vimos que seus capangas são capazes podem até matar Pokémon sem problemas para concretizar sua ambição. Quanto ao chefe da gangue, ele foi afastado dos clichês vilanescos dos anos 60. Giovanni foi retirado das sombras que ocultavam sua face, deixando o trabalho sujo para seus agentes e também não ganhou nenhum gato para acariciar (embora seus olhos sejam meio felinos). Ele cuida dos assuntos importantes pessoalmente e tem força o suficiente para defender a si mesmo.

Logo no começo de sua breve retrospectiva do que aconteceu entre um salvamento e outro, Red nos relata que seguiu um homem suspeito, eles batalharam e ele descobriu que o tal homem era um membro do Team Rocket. Após a vitória, Red encontrou o Rocket Hideout (o Rocket Game Corner foi completamente ignorado), onde liberou os Pokémon mantidos em cativeiro lá pelos criminosos, derrotou mais outros capangas e encontrou pela primeira vez o seu líder. Nos jogos, o jogador deve ir ao esconderijo dos bandidos para pegar o Silph Scope que estava sob posse do Team Rocket para entrar na Pokémon Tower, mas isso é irrelevante para o especial já que o Silph Scope foi tirado dos membros que estavam na própria Pokémon Tower e dado a Red por seu rival Green.

Se o primeiro encontro entre Red e Giovanni nos jogos terminava em batalha, o especial parece indicar que não chega a haver uma batalha, guardando esse momento para os dois encontros posteriores. O local do segundo encontro é a Silph Co. Tendo o status de a maior empresa do mundo Pokémon (até o momento), ela é a responsável por desenvolver um punhado de tecnologias úteis para os Pokémon Trainers, tais como as Potions, Poké Balls, Repels, TMs, o Pokégear e o próprio Silph Scope, entre outros. A imensa construção de 11 andares se ergue no centro de Saffron City e é uma das localidades mais importantes da franquia Pokémon, mas que também foi completamente ignorada no anime tradicional.

Logo que se chega na cidade nos jogos, ela está cheia de membros do Team Rocket nas ruas. Se há agentes fora, na cidade, dentro do prédio então é onde está a maior quantidade deles. Quando joguei Pokémon FireRed Version pela primeira vez, essa pra mim foi uma das partes mais desfiadoras. Nem tanto pela dificuldade das batalhas, mas sim pela parte de atravessar o verdadeiro labirinto que é a Silph Co. Apesar de estar cheia de membros do Team Rocket, a Silph Co. possui um sistema de segurança bem complexo. Os 11 andares do prédio possuem warp tiles (azulejos de teleporte) que enviam o jogador para áreas diferentes no mesmo andar ou em outros e também possui portas automáticas que só podem ser abertas depois que se obtém o Card Key. Como se a segurança da Silph já não fosse o suficiente, há ainda dezenas de Rocket Grunts para se enfrentar além de outros cientistas mal-intencionados e, é claro, seu próprio rival. Sem contar que eu também adoro a BGM do local e seu tom urgente – algo que senti falta no especial.

A primeira parte deste terceiro salvamento, que cobre este evento, é muito boa. Eu gosto muito de como Red narra os eventos de forma breve para compensar pela falta de minutos de duração disponíveis para trabalhar a complexa invasão ao prédio. Gosto também de como a situação é bem construída. Red e Green encontram por acidente a vice-presidente da empresa, que conseguira escapar à vigilância intensa dos Rockets a pedido de seu chefe para alertar às forças policiais que a Silph Co. fora tomada pelos criminosos. Particularmente, num especial dominado por personagens do sexo masculino, acho ótimo ter uma personagem feminina forte assim pra variar (tá certo que ela não faz muita coisa, mas o fato que ela escapou da empresa e está até ferida por isso, mas nem se importa, a torna um pouco fodona).

A informação que a vice-presidente dá sobre o que o Team Rocket está fazendo na empresa – os experimentos com os Pokémon para criar a Master Ball – difere um pouco dos jogos – onde a Master Ball já foi criada com sucesso –, mas torna a causa mais pessoal e heroica para Red. Entretanto, assim como nos jogos, o especial também deixa claro que Giovanni que tomar posse da poderosa companhia também. Há também mais um momento legal em que vemos o egoísmo de Green em contraste com o altruísmo de Red. Outro detalhe bacana do especial é como ele retrata as pessoas em Saffron de forma bem apática, porque de fato é como elas são nos jogos, em que umas fogem, outras se trancam em casa e outras ainda simplesmente fingem que eles não estão ali.

A invasão de Red a Silph Co. é rápida e no final não vemos como ele entrou no local afinal de contas, mas dá pra ver rapidamente as portas automáticas se abrindo e cientistas reféns sendo salvos, o visual do local também – tanto interno quanto externo – também lembra muito àqueles de FireRed & LeafGreen. Há também uma rápida participação do NPC que dá ao jogador o Lapras, e então finalmente o primeiro confronto entre Red e Giovanni!

Essa é uma cena que eu gosto muito. Primeiro porque não é Red quem faz Giovanni desistir do seu plano e sim o fato de que ele alertou as forças policiais. Observe que mesmo quando Red chega ele ainda diz que está falando de negócios com o presidente da empresa, mas depois que o Red fala que a polícia está a caminho, ele e seu agente decidem se retirar – bom, ainda fica meio sem noção se você considerar que os Rockets andavam nas ruas em seus trajes numa boa e ninguém fazia nada a respeito, mas acho que deve ter uma regra em algum lugar dizendo que a polícia só pode agir sendo apresentadas evidências do crime sendo cometido =P.


Eu adoro como a batalha acontece num local fechado – bem como nos jogos mesmo, mas desta vez com efeitos de destruição que vão além do quarto do jogador =P (como em Black & White) – e a forma como a Nidoqueen de Giovanni derrota o Charizard de Red, atigindo o menino e causando um blecaute é ótima porque Giovanni perdeu, mas saiu de cena com a honra lavada. A fala final dele sobre como Red contradiz o sentimento de amor que ele diz sentir por seus Pokémon quando os fere ao perder batalhas também é interessante, mas acaba dando em nada porque sabemos que não há tempo para desenvolver mais personagens. Uma coisa bizarra dessa cena, porém, é como o presidente da Silph Co. SIMPLESMENTE SOME! E aqui acaba tudo o que eu gostei sobre esse episódio.

Red e Giovanni tem seu fatídico encontro final no Viridian City Gym. Assim como nos jogos, ele é o último Gym Leader a ser enfrentado antes da Elite Four e então temos o que eu acho ser a batalha mais decepcionante de todo o especial. Bom, pra começar a batalha é muito incoerente: o Rhyhorn de Giovanni é SUUUUPER exagerado em termos de poder aqui. Eu entendo que ele é o Gym Leader mais poderoso, mas a forma como ele vence cinco Pokémon de Red praticamente usando um único golpe para cada não faz sentido – mesmo com a desculpa de Giovanni de que a diferença de nível entre eles era grande demais. Afinal de contas, este é Red, o menino que se tornará o Champion em breve derrotando a Elite Four e Green e seus vários Pokémon em sequência. A imensa dificuldade para nocautear o Rhyhorn faz parecer que Giovanni era mais forte até que a própria Elite, o que não é o caso (ao menos não nos jogos)!

É claro que sempre se pode argumentar que Red treinou muito para a Elite e tal, mas aí entra outro aspecto que eu não gosto do especial: o tempo. Quando todo salvamento começa, temos aquela janelinha como nos jogos dizendo quantas horas se passaram e eu sei que ela representa um tempo de jogo, que é beeeem mais curto que o tempo real, mas mesmo em tempo de jogo, seria impossível para Red fortalecer seu time para enfrentar a Elite no tempo tão curto mostrado nessas janelas. Pra vocês terem uma ideia, quando Red vence Giovanni, a janela nos mostra que ele está na jornada há 21 horas. Quando começa o quarto salvamento, só duas horinhas se passaram e fortalecer um time tanto assim em duas horas de jogo não me parece algo muito possível.

Mas voltemos à batalha: Red chega do Ginásio com um time bom para enfrentar os Pokémon Ground-type de Giovanni. Ainda assim, eles vão perdendo um a um para um único golpe do Rhyhorn do vilão. É tão exageradamente roubado que tira todo o clímax da batalha. Eu falei na review do primeiro salvamento que Red não demonstra possuir habilidades nada impressionantes de batalha. A grande maioria das lutas do especial até aqui consistem num sem criatividade esquema de cada Trainer comanda um ataque e pronto. É claro que se pode argumentar que é assim porque está sendo mais fiel ao esquema dos jogos, mas eles quebram as regras tantas vezes, que fazer uma batalha mais inventiva para ser mais interessante não teria feito mal algum. O que diminui a chatice é a animação, sempre excelente, mas ainda assim não é o suficiente para evitar o MAIOR estrago deste salvamento pra mim: a conversão de Giovanni.

Giovanni é um personagem relativamente fácil de se escrever. Isso é fato. Mas os roteiristas do especial decidiram mudar as coisas um pouquinho aqui. Nos jogos, ele desiste do Team Rocket devido ao fato de ter tido os seus planos frustrados pelo jogador. Isso lhe mostra que ele ainda não está pronto para liderar a organização criminosa, levando-o a desistir (temporariamente) sabendo que sempre terá Red para impedi-lo, dissolvendo assim sua gangue. No especial, por alguma razão eles decidiram amolecer o coração de Giovanni. Ao longo da batalha, o Gym Leader bandido vai sentindo uma emoção crescente e então durante a fatídica luta entre Charizard e Rhydon, ele relembra da empolgação que sentia e do amor que nutria pelos Pokémon quando era um jovem Pokémon Trainer. Ele então decide voltar a se dedicar às batalhas e encerra o Team Rocket.

Eu sei que tem gente aí que gostou da decisão dos produtores e roteiristas do especial de darem um tom mais “humano” a Giovanni, o problema é que a forma como é feita é tão ruinzinha e com poder de convencimento tão pequeno que gera náusea de tão superficial. A luta entre os dois é o tempo todo bastante desequilibrada e mesmo antes de começar a enfrentar os Pokémon de Red, Giovanni já começa a sentir essa emoção que ao menos para mim, enquanto telespectador, não se justifica. O confronto entre eles pode ser qualquer coisa, menos emocionante. Não há absolutamente NADA demais além de Pokémon se atacando numa cena muitíssimo bem animada. Aliás, eu também gostaria de apontar que apesar de o time de Red ser um time bom para se enfrentar Giovanni e o especial falar muito em como a relação de tipos é importante, é estranho ver o garoto ordenando que seu Charizard e Hitmonlee usem golpes Normal-type contra Pokémon que são Rock-type. Do mesmo modo, é estranho ver Giovanni não usar golpes Rock-type em situações que claramente lhe beneficiariam, como na luta entre Charizard e Rhydon.
 

Eu entendo a falta de tempo, mas se eles tivessem feito uma luta em que Red e Giovanni lutassem de igual para igual, um superando as estratégias do outro, para no fim Red vencer, provavelmente teriam tornado toda a mudança na atitude de Giovanni mais plausível. Além do mais, Red é legal e ao longo desses três salvamentos, somos constante lembrados de como é valente, corajoso, impulsivo, determinado, blábláblá, como todo protagonista de shonen deve ser, mas seu sentimento de amor pelos Pokémon é superficial quando vemos que apesar de ir lá e lutar para salvar todos eles, visivelmente falta química entre ele e seus próprios Pokémon – ele não parece se importar tanto com o fato de que eles estão se machucando quanto pelo fato de que está perdendo.

Talvez tenha sido a falta de tempo que impediu que eles conseguissem criar algum vínculo entre Red e qualquer outro dos Pokémon que não fosse o Charizard ou falta de criatividade de quem quer que tenha escrito a batalha que fez com que ela fosse tão sem vida. A culpa pode até mesmo ser da dubladora de Red (na versão japonesa), que deixa a desejar em termos de expressar os sentimentos mais nobres do garoto. Muitas coisas podem ter dado errado na construção desse episódio, mas enquanto muita gente ainda acha o Red do especial o Super Fucking Pokémon Trainer que o Ash nunca será, eu não trocaria nenhuma das batalhas importantes do Ash por esta entre Red e Giovanni, porque mesmo a mais fraca delas consegue ser mais interessante. E falo sério. É verdade que as coisas melhoram quando Rhydon entra em cena, mas aí Charizard vence relativamente fácil (e copiando o Seismic Toss clássico do Charizard do Ash).

No fim das contas, o maior erro do especial foi tentar inovar demais e fazer isso errado. Se fosse uma batalha realmente emocionante, em que ambos os Trainers tivessem que dar seu melhor, em que Giovanni fosse desafiado de verdade por Red, eu teria comprado essa ideia, mas da forma como foi feito foi apenas ridículo e desnecessário. Aliás, o fato de Giovanni precisar ficar narrando seus sentimentos para o telespectador também demonstram que o roteirista reconhecia que a batalha por si só não deixaria nada disso claro.
 
É claro que no momento em que o especial evitou a derrota de Giovanni no Rocket Hideout e no Silph Co., eles já estavam deixando as chances de a razão do fim do Team Rocket ser as constantes derrotas de Giovanni (como nos jogos) mais fracas, mas ainda teria sido melhor se tivessem seguido a historinha de Satoshi Tajiri direitinho. Também me incomoda o fato de que ele vai embora aparentemente sem punição pelos seus crimes, assim como seus agentes. Ao menos ainda tivemos um breve momento de preparação muito bacana para a parte final do especial com a ida de Red a Pokémon Mansion e eu também adorei a sequência de evolução do Charmeleon de Red em Charizard. E assim, escrevendo mais que o planejado como sempre, eu vou ter que fazer mesmo uma quarta parte, mas acho que ninguém duvidava disso afinal.
Imagens: filb e tumblr

2 comentários:

  1. Ae Sir, estou acompanhando seus Charithoughts, já que nao estou podendo assistir aos episodios. Bom, mas sobre esse especial, eu algumas coisas eu concordo e em outras nao. Porque eu gostei desse especial (eu ja o vi ha um tempo) simplesmente por nos dar uma visao mais madura de pokemon, nao tem aquele monte de coisa no anime normal que aliena quem assiste. Quando parece que sempre acontece a mesma coisa.

    E sobre o fato de ele nao demonstrar muito amor pelos seus pokemons, na verdade em pokemon isso é contraditorio. Se vc ama alguem ou alguma coisa nao vai coloca-lo pra brigar (ate nao aguentar mais ficar em pe, desmaiar) pelos seus objetivos particulares.

    Eu nunca vi voce criticar o tradicional trio rocket, mas particularmente nao gosto deles do lema a decolagem. A parte do anime que eu menos gosto.

    Valeu.

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    1. Jefferson, eu não acho que o especial como um todo foi ruim. Muito pelo contrário, eu adorei o especial. ENTRETANTO, pra mim eles erraram muito na segunda parte do salvamento 3, com a luta do Ginásio.
      Eu também acho que por mais "madura" que tenha sido a abordagem, o lance da amizade com seus Pokémon é algo presente MESMO nos jogos, então não é invencionice do anime e o próprio Red se declara amigo dos Pokémon algumas vezes, mas isso não é eficientemente mostrado.
      É como o Giovanni precisar dizer o tempo todo que está sentindo algo emocionante. A simples necessidade de usar palavras é pq as imagens não são o suficiente. Uma batalha mais emocionante teria sido ótima.

      E eu gosto mto do trio Rocket. Reconheço que há uma repetição excessiva do papel deles na série, claro - embora as temporadas mais recentes tenham mudado isso -, mas eu acho que por mtos anos eles foram os personagens melhor construídos da série.
      Obrigado por compartilhar seus pensamentos ^^

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