domingo, 8 de novembro de 2015

Sir Charithoughts: Pokémon XY088

Episódio 892/ XY088 - Revisitando um Trem! Clemont e Bunnelby!! 

Ahhh amada consistência! Como você faz falta e como me alegra a sua volta e como me revolta sua demora! Talvez por sua natureza essencialmente comercial, Pokémon é um anime que patina demais no ritmo de sua narrativa: alguns desenvolvimentos se dão de forma urgente, rápidos demais, e acabam por não aproveitar o tempo que precisariam para surtirem o efeito esperado; já outros acontecem de forma demasiado demorada, isso quando não são obrigados a fazer uma intervenção nos seus projetos originais por conta de alguma demanda dos executivos para promover os novos produtos nas lojas - incluindo-se aí os novos jogos. Tudo isso torna fazer um mapeamento e planejamento decente para a série algo muito difícil - embora eu ainda acredite que há formas de se contornar isso.

"Revisitando um Trem! Clemont e Bunnelby!!" é um episódio maravilhoso. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O. Do tipo que o anime quase nunca faz, mas devia fazer quase sempre. Chega a ser estranho como Bunnelby tem aparecido recentemente depois de ser ofuscado por Chespin em tantos episódios desde o começo da nova saga. Essa importância readquirida nos capítulos anteriores ajuda a tornar esta repentina visita ao passado do Pokémon Escavação algo menos aleatório e mais natural. É o tipo que atenção que Luxray devia ter ganhado seguindo-se à sua captura, pra reforçar seus laços com seu Treinador. É o tipo de atenção que Noibat devia estar ganhando agora para não parecer tão absurdamente esquecido (Voadores gonna ser esquecidos né), quando Ash deveria estar trabalhando duro para fortalecê-lo. 
Diferente dos típicos protagonistas de Pokémon, o passado de Clemont é tópico sempre trazido à tona de forma interessante. Foi assim em "Clemont Tem um Segredo!" e "Reencontro no Campus!", porém a diferença aqui é que os eventos do presente cedem lugar aos eventos do passado quase que completamente. Enquanto no presente, tudo o que vemos é Ash e cia caminhando para fora do túnel por onde passava uma rede trens de Kalos - diferente dos jogos e da região de Unova, a região da beleza abandonou seu sistema de transporte alternativo (é isso que acontece quando você não tem Metrô de Batalha pra pagar pela infraestrutura) - depois de derrotarem a Equipe Rocket rapidamente, no passado é que a verdadeira aventura se desenrola.
Como todo mundo já sabe como vai acabar, Yonemura utiliza de artifícios espertos para tornar a trama mais interessante e surpreendente: o comportadinho e todo certinho Bunnelby rouba a comida de dois pobres, indefesos e abalados Clemont e Bonnie (ainda sofrendo as consequências da rebelião do Clembô), vemos também que o coelhinho não era um Pokémon fraquinho qualquer, mas o lutador de seu próprio grupinho de rua (algo que torna a frase de Clemont sobre ter capturado ele há pouco tempo lááááá no primeiro episódio menos humilhante para Pikachu) e ainda testemunhamos mais uma vez a geniosidade de Clemont em batalhas com as dicas que ele dá ao Pokémon Escavação para vencer o Diggersby selvagem e até a origem da forma única e épica como o Pokémon usa suas orelhas como tática de defesa.
E enquanto faz isso, Yonemura não cria nenhuma contradição ou paradoxo temporal, mas deixa tudo bem colocado e justificado: até a ideia de mover os Pokémon selvagens amiguinhos para fora da cidade contribui para evitar questionamentos do tipo "e por que o Bunnelby nunca quis visitar seus amigos depois disso?". A personalidade calma do Pokémon orelhudo também é lidada de forma coerente ao longo de todo o evento, algo raro já que o anime está tão acostumado/viciado em lidar com os Pokémon de personalidades menos brandas. O episódio também acerta ao brincar com velhos clichês do próprio anime.
Bunnelby tem um grupo de Pokémon indefesos que precisa proteger, mas desta vez ele abandona o grupo para seguir com o Treinador e não o contrário (aliás, eu queria reforçar que essa é a mesma lógica que foi toda bagunçada nas terras úmidas onde Goodra ficou desnecessariamente para proteger um grupo de Pokémon que já contava com um exército próprio para protegê-los sempre, mas águas passadas). Além disso, Clemont foge completamente da típica atitude do Treinador que tenta esconder seus sentimentos mais sinceros e infantis ao cair no choro mais honesto do mundo e admitir que estava torcendo muito para que o coelhinho viesse atrás dele.
A propósito, eu adoro essa cena final porque ela é mais do que simplesmente uma quebra de expectativa. A cultura de se esconder seus sentimentos pra parecer forte é uma constante em produções japonesas, que parece refletir uma característica própria do povo nipônico de ser um povo mais contido e que não gosta de mostrar fraqueza ou perder. Todavia, Pokémon sempre foi aquele anime em que você vê o protagonista perdendo e entende a mensagem de que é normal perder, não se ganha todas, só não pode parar de tentar. Portanto, é igualmente essencial ter personagens que desabam, mas que tem seus amigos ali para falar com eles "Não tem nada demais em chorar", como Ash faz lindamente com Clemont. Especialmente numa sociedade machista como a nossa, que ainda acredita que "homem não chora", essa é uma mensagem importante para as crianças.
Simplesmente não tem como amar esse tratamento especial tardio que Bunnelby tem recebido. Sem fazer muito esforço, o Pokémon Escavação possui um carisma imenso e uma determinação para batalha que o tornaram o oponente perfeito para Pikachu estrear sua jornada em Kalos. É ótimo ver o Pokémon ganhando atenção, seja como um contraponto a Chespin ou como a preferência perfeita de companhia para brincar com um Tyrunt filhote ou para batalhas de verdade. Ao mesmo tempo, isso nos faz questionar: por que essa atenção toda não foi dada a Luxray quando era necessário? Ou será que ainda rola esperança de uma atenção tardia para o Pokémon Olhos Brilhantes? Ainda que não faça muito sentido hoje, quem um dia ia sequer suspeitar que o Bunnelby ia recebê-la em algum momento?

Considerações finais:

  • O primeiro encontro de Clemont e Bunnelby foi assistido por 3,8% do público japonês, ocupando a nona posição do ranking semanal entre os animais mais assistidos na tevê japonesa em sua semana de estreia;
  • Equipe Rocket cavando buraco pelo segundo episódio seguido! Que raro isso nos dias de hoje;
  • Por que Bonnie foi em casa e voltou só com uma maçã? Como ela e Clemont estavam tentando esconder a situação de seu pai, quer dizer então que a gurizinha adentrou na casa de Meyer secretamente para pegar algo pra comer e só tinha uma maçãzinha na geladeira? Esses pais solteiros -.-'
  • Por alguma razão, a voz de Mika Kanai parecia muuuito fora do tom neste episódio. Enquanto no anterior, não me incomodou, aqui ela ficou muito diferente do tom de Ise;
  • Juro que não enjoo da musiquinha do Clemont, que toca de novo aqui ♥
  • A SIMULAÇÃO DE BATALHA QUE BONNIE E CLEMONT FAZEM PARA MOSTRAR COMO BUNNELBY DEVIA ENFRENTAR DIGGERSBY SOCORRO
  • Adoro como Diggersby e fica todo nervosinho e diz "Não quero fazer as pazes", se afasta, pensa melhor e volta "Ok, fui bobo, vamos fazer as pazes";
  • Bunnelby enfrentou sua evolução. Acho que, pelo histórico do anime, já temos a confirmação de que ele não evoluirá tão cedo né;
  • Eu fiquei muito incomodado com o tamanho do Skitty neste episódio. Ele parecia muito grande, especialmente a cabeça. Desproporcional em relação ao Delcatty;
  • Ver o grupinho do Bunnelby encorajando-o a ir com Clemont me faz questionar se ocorreu o mesmo com o Esquadrão Squirtle, com a patota falando para o líder ir atrás de Ash;

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