Pokémon Gold & Silver #2
Coração de ouro, alma de prata
Evolução é um dos principais elementos do mundo Pokémon, porém enquanto ele é mais relacionado à transformação pela qual os monstros de bolso passam, Pocket Monsters SPECIAL faz um trabalho excepcional nos mostrando como seus Treinadores também evoluem. Neste volume, vemos a derrota de Gold para o Homem Mascarado e sua cruzada contra Silver servirem de motivação para que ele comece a treinar sério para se tornar alguém com dons para batalha. Além disso, temos um reencontro com Red que nos permite ver de verdade o quanto ele amadureceu desde que o conhecemos em Pokémon Red Green Blue #1.
Tradicionalmente em narrativas japonesas, rivais são personagens em extremos opostos de alguma filosofia ou crença pessoal e Gold e Silver não fogem a essa regra. Porém, ambos parecem estar em papéis opostos, mas cobertos de muito mais tons de cinza que o tradicional. Apesar de ser o herói que acompanhamos, o Treinador de New Bark parece mais próximo de um típico delinquente juvenil: seu maior talento está em jogos de aposta frequentemente associados a criminosos, ele não perde a oportunidade de tirar proveito das pessoas, não tem respeito pelos mais velhos, é temperamental e não possui um talento nato para batalhas nem um forte senso de justiça. Por outro lado, seu sombrio rival faz sua primeira aparição roubando um Pokémon Iniciante, mas sua cruzada pessoal contra a Equipe Rocket, seu passado trágico e seu visível talento e dedicação em se tornar um Treinador mais poderoso para vencê-los o tornam um legítimo (anti-?)herói.
O encontro com o Homem Mascarado é o que marca o início deste volume e é um momento decisivo na vida de Gold. Ao se ver completamente dominado pelo inimigo e entender que há algo mais na jornada de Silver do que um simples roubo de Pokémon, o mais novo portador da Pokédex muda o foco de sua jornada para uma busca por não apenas compreender o que está acontecendo de sinistro na região de Johto, como também se preparar para enfrentar o problema. Só neste volume, temos a aquisição do poderoso Sudoplom e do Togeplom durão, o treinamento com a senhora da Creche e as evoluções de Explom e Poliplom.
Quem também ganha mais camadas neste volume é o rival Silver. Seu passado vai sendo lentamente destrinchado diante do leitor, com a sua ligação com Green e Ho-Oh ficando cada vez mais clara, assim como suas vulnerabilidades. Durante o confronto final com o Homem Mascarado, descobrimos que ele foi abduzido e manipulado quando era bem novo até conseguir fugir com a ajuda de Green (a questão que eu não entendi muito bem é o lance da idade: o Homem Mascarado disse ter sequestrado Silver nove anos atrás, mas ele tem 11, o que quer dizer que teria sido quando ele tinha DOIS ANOS DE IDADE? Isso não faz muito sentido). Mais do que uma vontade de vingança, é também notável o temor de Silver de ver o Homem Mascarado atingindo seu objetivo, o que torna sua luta para combatê-lo um ato ainda mais nobre.
Este volume também traz o primeiro confronto entre Gold e Silver. A batalha é tão caótica e cheia das reviravoltas inesperadas tão comuns ao mangá, mas igualmente emocionante apesar de curta. O Treinador de New Bark termina derrotado e é ótimo ver sua satisfação de ver os frutos de seu treinamento com a velha da Creche deixando até mesmo os Pokémon de Silver impressionados. Aliás, foi ótimo dar uma olhada no time completo de Silver - com direito a um misterioso Tyranitar desobediente sinistro - e com a adição do Gyarados vermelho.
Seguindo a batalha emocionante no Lago da Fúria, Kusaka nos leva para Kanto. É uma manobra inteligente para manter os leitores sob o torturante suspense acerca do destino dos novos heróis, ao mesmo tempo em que nos permite ver como estão personagens queridos como Red, Blue e Yellow. É bom reencontrá-los, especialmente o nosso protagonista original, porque é a primeira vez que podemos realmente ver quem é esse Red três anos depois. Apesar de ter aparecido em Pokémon Yellow e a história ainda girar muito em torno dele, suas cenas não foram suficientes para nos permitir ver como ele estava depois da experiência de sofrer uma derrota humilhante e passar semanas preso numa escultura de gelo. Com esse retorno a Kanto, descobrimos um Red forte o bastante para se tornar o novo Líder de Ginásio de Viridian (não que o desafio da Associação fosse particularmente impressionante) e maduro o bastante para recusar e focar em se recuperar das sequelas dos anéis de gelo de Lorelei.
É provável que Kusaka estivesse planejando fazer de Red o novo Líder de Ginásio de Viridian, considerando os primeiros capítulos de Yellow e a beta dos jogos Pokémon Gold & Silver do Spaceworld mostrando que a própria Game Freak considerou a ideia em algum momento, mas se viu forçado a mudar seus planos quando as versões finais dos jogos saíram. Essa é uma das características que eu mais admiro no roteirista nesses primeiros arcos: a forma como ele astutamente une as histórias dos três primeiros arcos. Assim, Red não pode assumir o Ginásio, mas isso abre espaço para um desenvolvimento de personagem interessante que foge ao destino clichê que ele poderia ter.
Além do alinhamento da história, temos também os times dos personagens do mangá lentamente mudando para se assemelharem mais aos times de suas contrapartes, como Blue pegando de uma só vez todo o seu time de Líder de Ginásio dos jogos, Vee evoluído para Espeon e Red ganhando o Charizard de Blue emprestado para sua missão no Monte Prata. Pika ficando com Yellow - que agora tem sua própria Pikachu fofíssima chamada Chuchu - é um ponto fora da curva nesse sentido e eu fico um pouco incomodado com Red optando deixá-lo para trás sob um pretexto fraco, mas ao menos ele está com Yellow (que decide ir para Johto investigar o Pokémon pássaro misterioso do final do seu arco).
Ainda que a história fique bem mais séria, com uma presença maior e ainda mais perversa do Homem Mascarado, o aprofundamento no mistério de Silver e seu objetivo, terremotos fatais, ataques de uma Equipe Rocket bem mais organizada, a necessidade de cura de Red e os destinos finais de Gold e Silver no Lago da Fúria, o humor do primeiro volume ainda está presente, com momentos como a rixa entre Gold e o Smerg da DJ Mary e Whitney, a personalidade desvirtuosa da senhora da Creche e o nascimento de Togeplom trazendo não apenas leveza, mas também mantendo a característica singular das histórias protagonizadas pelo guri de New Bark.
Assim, Pokémon Gold & Silver ganha um forte segundo volume, que consegue superar o trabalho realizado com seu antecessor em todos os aspectos - inclusive na arte! Não sei se Mato teve ajuda ou se foi uma dedicação especial por esse ser o seu último volume desenhando a série. Apesar de já fazer 17 anos de sua saída, a arte de Mato e seu estilo que consegue tão bem expressar fofura e ação formaram a identidade de Pocket Monsters SPECIAL. Perdê-la por causa de uma condição médica é triste, mas a artista realizou um trabalho excelente com seu canto do cisne, que fica ainda mais evidente nas páginas finais desta edição.
Considerações finais:
Evolução é um dos principais elementos do mundo Pokémon, porém enquanto ele é mais relacionado à transformação pela qual os monstros de bolso passam, Pocket Monsters SPECIAL faz um trabalho excepcional nos mostrando como seus Treinadores também evoluem. Neste volume, vemos a derrota de Gold para o Homem Mascarado e sua cruzada contra Silver servirem de motivação para que ele comece a treinar sério para se tornar alguém com dons para batalha. Além disso, temos um reencontro com Red que nos permite ver de verdade o quanto ele amadureceu desde que o conhecemos em Pokémon Red Green Blue #1.
Quem também ganha mais camadas neste volume é o rival Silver. Seu passado vai sendo lentamente destrinchado diante do leitor, com a sua ligação com Green e Ho-Oh ficando cada vez mais clara, assim como suas vulnerabilidades. Durante o confronto final com o Homem Mascarado, descobrimos que ele foi abduzido e manipulado quando era bem novo até conseguir fugir com a ajuda de Green (a questão que eu não entendi muito bem é o lance da idade: o Homem Mascarado disse ter sequestrado Silver nove anos atrás, mas ele tem 11, o que quer dizer que teria sido quando ele tinha DOIS ANOS DE IDADE? Isso não faz muito sentido). Mais do que uma vontade de vingança, é também notável o temor de Silver de ver o Homem Mascarado atingindo seu objetivo, o que torna sua luta para combatê-lo um ato ainda mais nobre.
Arte de kiitzune(?)
Seguindo a batalha emocionante no Lago da Fúria, Kusaka nos leva para Kanto. É uma manobra inteligente para manter os leitores sob o torturante suspense acerca do destino dos novos heróis, ao mesmo tempo em que nos permite ver como estão personagens queridos como Red, Blue e Yellow. É bom reencontrá-los, especialmente o nosso protagonista original, porque é a primeira vez que podemos realmente ver quem é esse Red três anos depois. Apesar de ter aparecido em Pokémon Yellow e a história ainda girar muito em torno dele, suas cenas não foram suficientes para nos permitir ver como ele estava depois da experiência de sofrer uma derrota humilhante e passar semanas preso numa escultura de gelo. Com esse retorno a Kanto, descobrimos um Red forte o bastante para se tornar o novo Líder de Ginásio de Viridian (não que o desafio da Associação fosse particularmente impressionante) e maduro o bastante para recusar e focar em se recuperar das sequelas dos anéis de gelo de Lorelei.
É provável que Kusaka estivesse planejando fazer de Red o novo Líder de Ginásio de Viridian, considerando os primeiros capítulos de Yellow e a beta dos jogos Pokémon Gold & Silver do Spaceworld mostrando que a própria Game Freak considerou a ideia em algum momento, mas se viu forçado a mudar seus planos quando as versões finais dos jogos saíram. Essa é uma das características que eu mais admiro no roteirista nesses primeiros arcos: a forma como ele astutamente une as histórias dos três primeiros arcos. Assim, Red não pode assumir o Ginásio, mas isso abre espaço para um desenvolvimento de personagem interessante que foge ao destino clichê que ele poderia ter.
Além do alinhamento da história, temos também os times dos personagens do mangá lentamente mudando para se assemelharem mais aos times de suas contrapartes, como Blue pegando de uma só vez todo o seu time de Líder de Ginásio dos jogos, Vee evoluído para Espeon e Red ganhando o Charizard de Blue emprestado para sua missão no Monte Prata. Pika ficando com Yellow - que agora tem sua própria Pikachu fofíssima chamada Chuchu - é um ponto fora da curva nesse sentido e eu fico um pouco incomodado com Red optando deixá-lo para trás sob um pretexto fraco, mas ao menos ele está com Yellow (que decide ir para Johto investigar o Pokémon pássaro misterioso do final do seu arco).
Assim, Pokémon Gold & Silver ganha um forte segundo volume, que consegue superar o trabalho realizado com seu antecessor em todos os aspectos - inclusive na arte! Não sei se Mato teve ajuda ou se foi uma dedicação especial por esse ser o seu último volume desenhando a série. Apesar de já fazer 17 anos de sua saída, a arte de Mato e seu estilo que consegue tão bem expressar fofura e ação formaram a identidade de Pocket Monsters SPECIAL. Perdê-la por causa de uma condição médica é triste, mas a artista realizou um trabalho excelente com seu canto do cisne, que fica ainda mais evidente nas páginas finais desta edição.
Considerações finais:
- É muito óbvio que a DJ Mary e a Whitney são um casal neste universo e se você não percebeu isso, você preciso de óculos enviadados!
- Apesar do elogio à arte de Mato, eu não vou ignorar que ela desenhou um Wooper muito bugado na página 51. Os olhos do Poliplom também ficaram estranhamente arregalados durante todo o "VS Gligar";
- A Insígnia de Falkner é chamada de Insígnia Zéfiro. É a primeira vez que ela ganha um nome em português depois de ter sido mantida Zephyr no anime;
- Adoro o detalhe de que o Casal da Creche tentaram cruzar Nidoqueen e Nidoking pra ver se apareciam mais ovos e falharem, já que os dois não podem acasalar nos jogos por alguma razão;
- Acho curioso o Casal da Creche saber nada sobre Togepi considerando que Jasmine tem dois Togetic;
- Gente que falta de criatividade absurda dar dois Pineco e dois Forretress pra Associação Pokémon! Isso sem contar a perda de credibilidade da instituição né…
- Como competente que sou, já atualizei os Guias de Batalha de Gold e Red!
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