Pokémon: Red Green Blue #2
Apesar de a lógica dos anos 90 ser a de que videogame era coisa de menino - algo que a própria Nintendo reforçava com seus Game Boy e Virtual Boy -, Pokémon sempre reconheceu o potencial do público feminino. Ainda que os primeiros jogos não apresentassem a opção de partir numa jornada como uma Treinadora, duas artes oficiais - uma por Ken Sugimori para o guia de estratégias oficial dos primeiros jogos, lançado entre 1996 e 1997, e outra por Emiko Yoshi para o livro de recortes e dobraduras Pokémon Craft DX - pareciam indicar que isso fez sim parte dos planos da Game Freak em algum momento. Enquanto a maioria das outras mídias relacionadas à franquia continuaram a ignorar a existência dessa Treinadora, criando novas personagens (como Hazel para o mangá Pocket Monsters PiPiPi ★ Adventures) ou selecionando outras meninas dos jogos para serem suas protagonistas (Misty para o anime), Hidenori Kusaka e Mato decidiram trazê-la à vida nas páginas de seu Pocket Monsters SPECIAL!
Blue Green Aparece!
E não existiria forma melhor de abrir este segundo volume de Pokémon: Red Green Blue que com a introdução espetacular dessa personagem! Diferente do que se esperaria de uma típica mocinha do mundo Pokémon, Green é uma malandra da melhor qualidade: uma excelente observadora, ela é capaz de identificar a fraqueza psicológica de cada oponente e atacá-la. É acariciando o ego sempre inflado de Red, fingindo ser uma garotinha frágil apaixonada por ele, e depois se fazendo de derrotada que ela consegue enganá-lo três vezes no mesmo dia. Green também não parece não ter puderes de lucrar usando Pokémon raros para atingir seus próprios objetivos tampouco tem restrições sobre roubá-los (afinal, a essa altura não é mistério pra ninguém que foi ela quem roubou Squirtle). Ela também parece ser muito engenhosa com tecnologia, haja visto sua habilidade de modificar o Silph Scope para transformá-lo num binóculo capaz de rastrear energia Psíquica - algo útil não apenas para localizar Mew, mas também visualizar a barreira cercando Saffron.
Todavia, o mais admirável sobre Green é a forma criativa com a qual ela utiliza seus Pokémon. Tendo plena consciência de suas limitações enquanto Treinadora em termos de força, Green usa sua inteligência e as habilidades especiais de seus Pokémon para contornar as mais difíceis e improváveis situações, sempre mantendo a calma. Nesse aspecto, Kusaka é extremamente feliz na composição do time da garota e como cada membro exerce uma função única: Wartortle é sua força de combate, Jigglypuff seu transporte aéreo e Ditto sua melhor camuflagem e disfarce - e esses são apenas os primeiros a que fomos apresentados.
Porém, enquanto Green tem todos esses atributos que pareceriam negativos o suficiente para fazer dela uma vilã em potencial, Kusaka cuida para ela seja suficientemente divertida e intrigante ao passo que Mato cuida para que ela seja carismática e fofa o bastante para que consiga conquistar os leitores. E ela consegue! Além disso, eles fazem questão de nos lembrar porque a Equipe Rocket são não apenas os grandes vilões da história, como também nos dão ainda mais motivos para odiá-los e temê-los.
Frankestein fazendo escola
Os vilões reaparecem num contexto até meio cômico e ordinário: ao descobrir que suas Insígnias de Pedra e Cascata foram roubadas por Green e que até a Equipe Rocket tem contas a acertar com a garota, Red rouba o uniforme de um recruta e se infiltra no Casino Rocket. Porém, o momento é utilizado não só para nos dar um vislumbre do laboratório aonde a Equipe Rocket conduz seus experimentos em Pokémon roubados como também para introduzir rapidamente dois personagens que se provarão cruciais para a trama: Blaine e Mewtwo.
Nesta versão da história, o Líder do Ginásio de Fogo maníaco por charadas é transformado num cientista que trabalha para a Equipe Rocket em seus experimentos, em especial Mewtwo. É uma mudança interessante dos jogos e do anime, onde tal cientista é o Sr. Fuji, mas que serve maravilhosamente bem ao propósito de Kusaka de atrelar os Líderes de Ginásio à trama da Equipe Rocket. A localização sutil, mas bem calculada de Blaine no laboratório durante a invasão de Red, assim como os poucos diálogos que já explicavam o que era Mewtwo e a importância de Mew em sua criação já preparam o terreno não apenas para os capítulos finais desta edição, como nos dão algo pelo que esperar na parte final desta aventura.
A trama introduz também outro Pokémon vítima de experimentos da Equipe Rocket: Eevee. Assim como o Gyarados de Misty, ele é outra cobaia Rocket. Só que enquanto tudo o que o Gyarados manifestava era apenas fúria, Eevee ganhou a capacidade de evoluir e desevoluir em qualquer uma de suas três formas evolutivas possíveis. De um ponto de vista científico, é a melhor forma de se fazer uso do Pokémon Evolução em combate e uma forma brilhante de Kusaka nos mostrar as barreiras que a Equipe Rocket está quebrando com sua ciência monstruosa. É também maravilhoso ver como o roteirista pegou três elementos da Cidade de Celadon que nos jogos possuem conexão nenhuma - o Casino Rocket, o Eevee que o jogador recebe e Erika - e os une numa mesma trama. Igualmente engenhosa é a pequena referência que ele faz à função do computador de Bill nos jogos ao trazer o personagem para ajudar Red na captura do Eevee. Ver como depois de capturado e devidamente apelidado de Vee, o pequeno Pokémon Evolução é capaz de compreender a dor de Gyarados (que sofre uma recaída) e advogar em seu favor, em "VS Articuno", só torna sua presença ainda mais especial (ainda que breve e limitada).
E se vamos falar de Equipe Rocket, não podemos ignorar sua maior personalidade: Giovanni. Fazendo uma estreia singular no capítulo "VS Magmar", o líder da gangue criminosa se passa por um maníaco por fósseis Pokémon indefeso para avaliar a força de Red. A arte de Mato é excelente em mostrar tanto o lado que Giovanni quer transparecer como aquele que tenta a todo custo esconder, algo difícil porque a personalidade imprevisível do jovem Treinador o surpreende a todo momento. É legal notar, por exemplo, como ele sai da personagem rapidamente quando Red se gaba que nem os Líderes de Ginásio são capazes de vencê-lo e como cogita em acabar com o garoto logo após vê-lo usando seu Sandshrew recém-capturado para rapidamente imobilizar dois Magmar selvagens poderosos de maneira criativa, mas desiste ao perceber que ainda falta ao garoto a determinação para acabar com o inimigo (algo do que o Líder mostra ser capaz ao usar seu Cloyster para dar fim - bem literal - aos Pokémon Cospe-Fogo).
Talvez o elemento mais fraco deste volume em relação à organização criminosa é a forma um pouco repetitiva como ela aparece nos capítulos de estreia das aves lendárias. Ver Red enfrentando duas equipes de membros da Equipe Rocket em duas ilhas, uma na Ilha Cinnabar e outra na Ilha Seafoam, acabou soando um pouco repetitivo e sem originalidade. Embora as circunstâncias fossem completamente diferentes - em "VS Articuno", os ladrões queriam o Pokémon lendário e em "VS Moltres" eles queriam Blaine -, os elementos em comum de ambas as histórias ajudou a criar um clima de déjà vu. Além disso, em ambos capítulos Red ganha um novo membro crucial para seu time.
O que salva é o capítulo final "VS Kadabra", que não só faz uma introdução real muito competente de Sabrina (depois de algumas participações aleatórias em capítulos anteriores) e contextualiza a ida dos Treinadores a Saffron, como também torna o confronto contra a Equipe Rocket algo pessoal com o sequestro de Professor Carvalho e os outros cidadãos de Pallet!
Temos que pegar, salvar, trocar, evoluir, ressuscitar todos!
Para um Treinador que antes focava primariamente em três Pokémon, Red já demonstra uma mudança de atitude bastante acentuada neste volume. Pika, Poli e Bulba - os três devidamente apelidados desta vez na edição da Panini - passam a dividir mais tempo em cena com as mais novas aquisições do Treinador: sejam os secundários Krabby, Diglett e Sandshrew, ou os novos titulares Lax, Vee, Gyarinho e Aero, todos ganham atenção em menor ou maior grau.
É até um pouco triste que os acontecimentos rápidos do mangá não permitam uma maior exploração de Vee, por exemplo, que acaba sendo colocado no banco devido à sua falta de funcionalidade - afinal, Red precisa de alguém para Voar e para Surfar (como qualquer jogador daquela época em que MOs - ou HMs, se preferir - eram ultra-necessárias) e não dá pra abrir mão dos seus outros Pokémon mais fortes e evoluídos nessa reta final.
Pokémon: Red Green Blue #2 também reforça a habilidade de Red como indivíduo sem seus Pokémon. Num mundo em que não é seguro se aventurar sozinho na grama alta, ver o Treinador se virando por conta própria numa Zona de Safári altamente hostil (diferente dos jogos) serve para ajudar a construir a imagem do garoto como um típico herói shonen. Ele se mostra incrivelmente capaz ao não apenas sobreviver e escapar de seus predadores, mas também de fazer deles seus Pokémon. Aliás, vale dizer que num volume onde tantos capítulos movimentam a história, esses dois na Zona de Safári soam como dois grandes fillers. Felizmente, a forma como Mato e Kusaka pegaram inspirações de Jurassic Park (não tem como ser mais óbvio com aquele logo da Zona!) para nos mostrar um mundo Pokémon terrivelmente selvagem.
As habilidades de Red são também são novamente postas em contraste com as de Blue em "VS Ninetales". Num evento que faz com que os Treinadores trocassem acidentalmente todos os seus Pokémon, o mangá nos dá um dos primeiros vislumbres canônicos de como os monstros de bolso podem absorver as personalidades de seus Treinadores. Embora seja tratado de forma rápida, num único capítulo e sem muito desenvolvimento, é no mínimo divertido ver a dificuldade de Red em lidar com os Pokémon intimidadores de Blue e depois receber os seus próprios monstros de volta, com aquele olhar agressivo, enquanto o rival recebe os seus bem mais afáveis. É algo que tanto os jogos como o anime já enfatizaram várias vezes, mas que até hoje falharam em ilustrar com a mesma competência.
É também legal ver como naquela época sem lei, uma simples troca informal já era o suficiente para validar uma evolução por troca e adicionar os dados nas Pokédexes de ambos - um detalhe que eu particularmente achei bem legal. É também interessante que mesmo Pokémon adquiridos por compra no Casino Rocket também contam como Pokémon trocados no mangá - ainda que não se dê nenhum monstro em troca.
Além dos Líderes associados à Equipe Rocket, também somos introduzidos à Erika, a terceira Líder de Ginásio boazinha. Se nos jogos, a lady da Cidade de Celadon é especializada na arte do arranjo de flores e dorme o suficiente para se suspeitar de uma narcolepsia, Kusaka e Mato a reimaginam como uma líder da resistência à Equipe Rocket, determinada, inteligente e excelente na arte da arquearia. O fato de ela estar mobilizando as forças populares para enfrentar os vilões apenas aumenta seu mérito e a tornam uma personagem maravilhosa - esta é, sem dúvida, minha versão favorita dela! Aliás, é também louvável que ela seja uma das poucas Líderes que Red não é capaz de vencer.
Panininha
No charithoughts do primeiro volume de Pokémon: Red Green Blue foi comentado sobre como a tradução parecia ter ignorado os apelidos dos Pokémon de Red - algo estranho considerando que em Pokémon: Black & White isso não tinha acontecido. Neste segundo volume, porém, isso é consertado e todos os Pokémon, não só do nosso protagonista, mas também de outros coadjuvantes, ganham apelidos. Porém, eu devo dizer que eu não fiquei muito feliz com a forma como isso foi feito. Enquanto alguns apelidos estão perfeitos (Pika, Poli, Aero, Vee, Lax), eu tive problemas com outros.
O que mais incomoda talvez seja o fato de que enquanto a versão japonesa usa nomes que se aplicariam a todas as formas evolutivas que vemos ou pelo menos ao estágio atual do Pokémon, a versão brasileira tem adotado nomes que não se encaixam muito com as evoluções. Um exemplo menos grave é Bulba. Na versão japonesa o apelido do Pokémon é Fusshi e serve para todas as três formas já que fushi- está presente no começo dos nomes dos três estágios: Fushigidane, Fushigisou e Fushigibana. A partícula que se repete nos nomes ocidentais de Bulbasaur, Ivysaur e Venusaur é o -saur que, não à toa, foi o nome adotado para o Pokémon na versão em inglês. Pelo menos Bulba é um bom nome, com uma boa sonoridade.
Agora, como lidar com nomes que são nada mais que diminutivos de formas anteriores dos Pokémon? É o caso do Wartortle de Green. No Japão, o Pokémon se chama Kame-chan. Seguindo uma lógica semelhante à do Fusshi, kame- é a partícula que se repete nos nomes japoneses de Wartortle (Kameil) e Blastoise (Kamex). Como na versão americana os nomes não possuem nada de similar, o tradutor foi esperto o suficiente para adotar um nome que serviria à última evolução - já que esta é a definitiva -, logo ele se chama Blasty (o -y sendo um sufixo que em nomes em inglês passa a ideia de diminutivo ou representa uma forma carinhosa de chamar alguém). Ver Green chamando seu Wartortle (e eventualmente Blastoise) de Squirtinho não faz o menor sentido! Especialmente se levarmos em conta que nunca nem a vemos usando o Pokémon Tartaruguinha - e duvido nada que ela o chamasse de Zeni-chan quando ele era um, mas não mais.
Até porque, se você está adotando diminutivo como apelido, ele se ajusta ao nome atual do Pokémon! Por que não Wartinho? É horrível? É, mas faz sentido. E depois Blastinho nem soa tão ruim. Sem contar que isso é o mangá, uma mídia com uma trama mais orgânica, menos rígida. Não é como se para mudar o apelido de alguém, os Treinadores tivessem que ir ao Name Rater porque a programação do jogo manda. Além disso, em Pokémon: Black & White acompanhamos as mudanças de apelido do Tep para Nite e Boar e afetou nada. Só fez sentido!
Ainda sobre diminutivos, alguém me explica o Gyarinho? Eu fui checar se na versão japonesa o Pokémon era chamado de Gyara-chan e, bom, ele não é. Não pelo Red. A Misty chamá-lo de Gyarinho até faz sentido já que ela chama todos os seus Pokémon no diminutivo (Starzinha, por exemplo, é Hito-chan no Japão), agora o Red pode chamá-lo de Gyara numa boa porque não é do feitio dele usar diminutivos (ou o honorífico -chan). Não é Polinho, Bulbinha, nem Pikinha. Então por que Gyarinho? E aliás, diminutivos foram quase um personagem à parte neste volume do mangá de tão recorrentes que foram!
Outro erro que merece ser comentado acontece no capítulo "VS Wartortle". Quando Professor Carvalho está contando a Red sobre o Squirtle roubado ele diz que o evento ocorreu "ontem". Entretanto, essa localização temporal do evento não faz muito sentido. Originalmente, o professor era mais vago sobre quando o roubo aconteceu, mas sempre ficou implícito que foi em período de tempo maior do que "ontem" - algo que fará ainda menos sentido lendo o Volume 3 -, especialmente considerando que Green levou um Squirtle e ele já aparece evoluído para Wartortle neste Volume 2.
Enfim, as aventuras de Red em Kanto se aproximam de seu clímax e, problemas à parte, a Panini continua fazendo um trabalho muito bom com sua versão da história - bem melhor que a da Viz Media, com certeza - e eles até consertaram o lance do Lt. Surge neste volume! Com o Pokémon: Red Green Blue #3 já em mãos o próximo charithought não deve demorar e eu mal posso esperar para Pokémon: Yellow!
Considerações finais:
E não existiria forma melhor de abrir este segundo volume de Pokémon: Red Green Blue que com a introdução espetacular dessa personagem! Diferente do que se esperaria de uma típica mocinha do mundo Pokémon, Green é uma malandra da melhor qualidade: uma excelente observadora, ela é capaz de identificar a fraqueza psicológica de cada oponente e atacá-la. É acariciando o ego sempre inflado de Red, fingindo ser uma garotinha frágil apaixonada por ele, e depois se fazendo de derrotada que ela consegue enganá-lo três vezes no mesmo dia. Green também não parece não ter puderes de lucrar usando Pokémon raros para atingir seus próprios objetivos tampouco tem restrições sobre roubá-los (afinal, a essa altura não é mistério pra ninguém que foi ela quem roubou Squirtle). Ela também parece ser muito engenhosa com tecnologia, haja visto sua habilidade de modificar o Silph Scope para transformá-lo num binóculo capaz de rastrear energia Psíquica - algo útil não apenas para localizar Mew, mas também visualizar a barreira cercando Saffron.
Todavia, o mais admirável sobre Green é a forma criativa com a qual ela utiliza seus Pokémon. Tendo plena consciência de suas limitações enquanto Treinadora em termos de força, Green usa sua inteligência e as habilidades especiais de seus Pokémon para contornar as mais difíceis e improváveis situações, sempre mantendo a calma. Nesse aspecto, Kusaka é extremamente feliz na composição do time da garota e como cada membro exerce uma função única: Wartortle é sua força de combate, Jigglypuff seu transporte aéreo e Ditto sua melhor camuflagem e disfarce - e esses são apenas os primeiros a que fomos apresentados.
Porém, enquanto Green tem todos esses atributos que pareceriam negativos o suficiente para fazer dela uma vilã em potencial, Kusaka cuida para ela seja suficientemente divertida e intrigante ao passo que Mato cuida para que ela seja carismática e fofa o bastante para que consiga conquistar os leitores. E ela consegue! Além disso, eles fazem questão de nos lembrar porque a Equipe Rocket são não apenas os grandes vilões da história, como também nos dão ainda mais motivos para odiá-los e temê-los.
Frankestein fazendo escola
Os vilões reaparecem num contexto até meio cômico e ordinário: ao descobrir que suas Insígnias de Pedra e Cascata foram roubadas por Green e que até a Equipe Rocket tem contas a acertar com a garota, Red rouba o uniforme de um recruta e se infiltra no Casino Rocket. Porém, o momento é utilizado não só para nos dar um vislumbre do laboratório aonde a Equipe Rocket conduz seus experimentos em Pokémon roubados como também para introduzir rapidamente dois personagens que se provarão cruciais para a trama: Blaine e Mewtwo.
Nesta versão da história, o Líder do Ginásio de Fogo maníaco por charadas é transformado num cientista que trabalha para a Equipe Rocket em seus experimentos, em especial Mewtwo. É uma mudança interessante dos jogos e do anime, onde tal cientista é o Sr. Fuji, mas que serve maravilhosamente bem ao propósito de Kusaka de atrelar os Líderes de Ginásio à trama da Equipe Rocket. A localização sutil, mas bem calculada de Blaine no laboratório durante a invasão de Red, assim como os poucos diálogos que já explicavam o que era Mewtwo e a importância de Mew em sua criação já preparam o terreno não apenas para os capítulos finais desta edição, como nos dão algo pelo que esperar na parte final desta aventura.
A trama introduz também outro Pokémon vítima de experimentos da Equipe Rocket: Eevee. Assim como o Gyarados de Misty, ele é outra cobaia Rocket. Só que enquanto tudo o que o Gyarados manifestava era apenas fúria, Eevee ganhou a capacidade de evoluir e desevoluir em qualquer uma de suas três formas evolutivas possíveis. De um ponto de vista científico, é a melhor forma de se fazer uso do Pokémon Evolução em combate e uma forma brilhante de Kusaka nos mostrar as barreiras que a Equipe Rocket está quebrando com sua ciência monstruosa. É também maravilhoso ver como o roteirista pegou três elementos da Cidade de Celadon que nos jogos possuem conexão nenhuma - o Casino Rocket, o Eevee que o jogador recebe e Erika - e os une numa mesma trama. Igualmente engenhosa é a pequena referência que ele faz à função do computador de Bill nos jogos ao trazer o personagem para ajudar Red na captura do Eevee. Ver como depois de capturado e devidamente apelidado de Vee, o pequeno Pokémon Evolução é capaz de compreender a dor de Gyarados (que sofre uma recaída) e advogar em seu favor, em "VS Articuno", só torna sua presença ainda mais especial (ainda que breve e limitada).
E se vamos falar de Equipe Rocket, não podemos ignorar sua maior personalidade: Giovanni. Fazendo uma estreia singular no capítulo "VS Magmar", o líder da gangue criminosa se passa por um maníaco por fósseis Pokémon indefeso para avaliar a força de Red. A arte de Mato é excelente em mostrar tanto o lado que Giovanni quer transparecer como aquele que tenta a todo custo esconder, algo difícil porque a personalidade imprevisível do jovem Treinador o surpreende a todo momento. É legal notar, por exemplo, como ele sai da personagem rapidamente quando Red se gaba que nem os Líderes de Ginásio são capazes de vencê-lo e como cogita em acabar com o garoto logo após vê-lo usando seu Sandshrew recém-capturado para rapidamente imobilizar dois Magmar selvagens poderosos de maneira criativa, mas desiste ao perceber que ainda falta ao garoto a determinação para acabar com o inimigo (algo do que o Líder mostra ser capaz ao usar seu Cloyster para dar fim - bem literal - aos Pokémon Cospe-Fogo).
Talvez o elemento mais fraco deste volume em relação à organização criminosa é a forma um pouco repetitiva como ela aparece nos capítulos de estreia das aves lendárias. Ver Red enfrentando duas equipes de membros da Equipe Rocket em duas ilhas, uma na Ilha Cinnabar e outra na Ilha Seafoam, acabou soando um pouco repetitivo e sem originalidade. Embora as circunstâncias fossem completamente diferentes - em "VS Articuno", os ladrões queriam o Pokémon lendário e em "VS Moltres" eles queriam Blaine -, os elementos em comum de ambas as histórias ajudou a criar um clima de déjà vu. Além disso, em ambos capítulos Red ganha um novo membro crucial para seu time.
O que salva é o capítulo final "VS Kadabra", que não só faz uma introdução real muito competente de Sabrina (depois de algumas participações aleatórias em capítulos anteriores) e contextualiza a ida dos Treinadores a Saffron, como também torna o confronto contra a Equipe Rocket algo pessoal com o sequestro de Professor Carvalho e os outros cidadãos de Pallet!
Temos que pegar, salvar, trocar, evoluir, ressuscitar todos!
Para um Treinador que antes focava primariamente em três Pokémon, Red já demonstra uma mudança de atitude bastante acentuada neste volume. Pika, Poli e Bulba - os três devidamente apelidados desta vez na edição da Panini - passam a dividir mais tempo em cena com as mais novas aquisições do Treinador: sejam os secundários Krabby, Diglett e Sandshrew, ou os novos titulares Lax, Vee, Gyarinho e Aero, todos ganham atenção em menor ou maior grau.
É até um pouco triste que os acontecimentos rápidos do mangá não permitam uma maior exploração de Vee, por exemplo, que acaba sendo colocado no banco devido à sua falta de funcionalidade - afinal, Red precisa de alguém para Voar e para Surfar (como qualquer jogador daquela época em que MOs - ou HMs, se preferir - eram ultra-necessárias) e não dá pra abrir mão dos seus outros Pokémon mais fortes e evoluídos nessa reta final.
Pokémon: Red Green Blue #2 também reforça a habilidade de Red como indivíduo sem seus Pokémon. Num mundo em que não é seguro se aventurar sozinho na grama alta, ver o Treinador se virando por conta própria numa Zona de Safári altamente hostil (diferente dos jogos) serve para ajudar a construir a imagem do garoto como um típico herói shonen. Ele se mostra incrivelmente capaz ao não apenas sobreviver e escapar de seus predadores, mas também de fazer deles seus Pokémon. Aliás, vale dizer que num volume onde tantos capítulos movimentam a história, esses dois na Zona de Safári soam como dois grandes fillers. Felizmente, a forma como Mato e Kusaka pegaram inspirações de Jurassic Park (não tem como ser mais óbvio com aquele logo da Zona!) para nos mostrar um mundo Pokémon terrivelmente selvagem.
As habilidades de Red são também são novamente postas em contraste com as de Blue em "VS Ninetales". Num evento que faz com que os Treinadores trocassem acidentalmente todos os seus Pokémon, o mangá nos dá um dos primeiros vislumbres canônicos de como os monstros de bolso podem absorver as personalidades de seus Treinadores. Embora seja tratado de forma rápida, num único capítulo e sem muito desenvolvimento, é no mínimo divertido ver a dificuldade de Red em lidar com os Pokémon intimidadores de Blue e depois receber os seus próprios monstros de volta, com aquele olhar agressivo, enquanto o rival recebe os seus bem mais afáveis. É algo que tanto os jogos como o anime já enfatizaram várias vezes, mas que até hoje falharam em ilustrar com a mesma competência.
É também legal ver como naquela época sem lei, uma simples troca informal já era o suficiente para validar uma evolução por troca e adicionar os dados nas Pokédexes de ambos - um detalhe que eu particularmente achei bem legal. É também interessante que mesmo Pokémon adquiridos por compra no Casino Rocket também contam como Pokémon trocados no mangá - ainda que não se dê nenhum monstro em troca.
Além dos Líderes associados à Equipe Rocket, também somos introduzidos à Erika, a terceira Líder de Ginásio boazinha. Se nos jogos, a lady da Cidade de Celadon é especializada na arte do arranjo de flores e dorme o suficiente para se suspeitar de uma narcolepsia, Kusaka e Mato a reimaginam como uma líder da resistência à Equipe Rocket, determinada, inteligente e excelente na arte da arquearia. O fato de ela estar mobilizando as forças populares para enfrentar os vilões apenas aumenta seu mérito e a tornam uma personagem maravilhosa - esta é, sem dúvida, minha versão favorita dela! Aliás, é também louvável que ela seja uma das poucas Líderes que Red não é capaz de vencer.
Panininha
No charithoughts do primeiro volume de Pokémon: Red Green Blue foi comentado sobre como a tradução parecia ter ignorado os apelidos dos Pokémon de Red - algo estranho considerando que em Pokémon: Black & White isso não tinha acontecido. Neste segundo volume, porém, isso é consertado e todos os Pokémon, não só do nosso protagonista, mas também de outros coadjuvantes, ganham apelidos. Porém, eu devo dizer que eu não fiquei muito feliz com a forma como isso foi feito. Enquanto alguns apelidos estão perfeitos (Pika, Poli, Aero, Vee, Lax), eu tive problemas com outros.
O que mais incomoda talvez seja o fato de que enquanto a versão japonesa usa nomes que se aplicariam a todas as formas evolutivas que vemos ou pelo menos ao estágio atual do Pokémon, a versão brasileira tem adotado nomes que não se encaixam muito com as evoluções. Um exemplo menos grave é Bulba. Na versão japonesa o apelido do Pokémon é Fusshi e serve para todas as três formas já que fushi- está presente no começo dos nomes dos três estágios: Fushigidane, Fushigisou e Fushigibana. A partícula que se repete nos nomes ocidentais de Bulbasaur, Ivysaur e Venusaur é o -saur que, não à toa, foi o nome adotado para o Pokémon na versão em inglês. Pelo menos Bulba é um bom nome, com uma boa sonoridade.
Agora, como lidar com nomes que são nada mais que diminutivos de formas anteriores dos Pokémon? É o caso do Wartortle de Green. No Japão, o Pokémon se chama Kame-chan. Seguindo uma lógica semelhante à do Fusshi, kame- é a partícula que se repete nos nomes japoneses de Wartortle (Kameil) e Blastoise (Kamex). Como na versão americana os nomes não possuem nada de similar, o tradutor foi esperto o suficiente para adotar um nome que serviria à última evolução - já que esta é a definitiva -, logo ele se chama Blasty (o -y sendo um sufixo que em nomes em inglês passa a ideia de diminutivo ou representa uma forma carinhosa de chamar alguém). Ver Green chamando seu Wartortle (e eventualmente Blastoise) de Squirtinho não faz o menor sentido! Especialmente se levarmos em conta que nunca nem a vemos usando o Pokémon Tartaruguinha - e duvido nada que ela o chamasse de Zeni-chan quando ele era um, mas não mais.
Até porque, se você está adotando diminutivo como apelido, ele se ajusta ao nome atual do Pokémon! Por que não Wartinho? É horrível? É, mas faz sentido. E depois Blastinho nem soa tão ruim. Sem contar que isso é o mangá, uma mídia com uma trama mais orgânica, menos rígida. Não é como se para mudar o apelido de alguém, os Treinadores tivessem que ir ao Name Rater porque a programação do jogo manda. Além disso, em Pokémon: Black & White acompanhamos as mudanças de apelido do Tep para Nite e Boar e afetou nada. Só fez sentido!
Ainda sobre diminutivos, alguém me explica o Gyarinho? Eu fui checar se na versão japonesa o Pokémon era chamado de Gyara-chan e, bom, ele não é. Não pelo Red. A Misty chamá-lo de Gyarinho até faz sentido já que ela chama todos os seus Pokémon no diminutivo (Starzinha, por exemplo, é Hito-chan no Japão), agora o Red pode chamá-lo de Gyara numa boa porque não é do feitio dele usar diminutivos (ou o honorífico -chan). Não é Polinho, Bulbinha, nem Pikinha. Então por que Gyarinho? E aliás, diminutivos foram quase um personagem à parte neste volume do mangá de tão recorrentes que foram!
Outro erro que merece ser comentado acontece no capítulo "VS Wartortle". Quando Professor Carvalho está contando a Red sobre o Squirtle roubado ele diz que o evento ocorreu "ontem". Entretanto, essa localização temporal do evento não faz muito sentido. Originalmente, o professor era mais vago sobre quando o roubo aconteceu, mas sempre ficou implícito que foi em período de tempo maior do que "ontem" - algo que fará ainda menos sentido lendo o Volume 3 -, especialmente considerando que Green levou um Squirtle e ele já aparece evoluído para Wartortle neste Volume 2.
Enfim, as aventuras de Red em Kanto se aproximam de seu clímax e, problemas à parte, a Panini continua fazendo um trabalho muito bom com sua versão da história - bem melhor que a da Viz Media, com certeza - e eles até consertaram o lance do Lt. Surge neste volume! Com o Pokémon: Red Green Blue #3 já em mãos o próximo charithought não deve demorar e eu mal posso esperar para Pokémon: Yellow!
Considerações finais:
- Antes de Pokémon Gold & Silver Versions, era impossível equipar Pokémon com itens para batalhar nos jogos;
- Assim como Red neste volume, em Pokémon Gold & Silver Versions, o jogador também pode se disfarçar de membro da Equipe Rocket e se infiltrar num posto da organização;
- A Misty de Pokémon: Red Green Blue já se vestia de sereia muuuito antes de virar modinha no anime;
- Como eu queria que o anime tivesse nos dado um episódio no estilo de "VS Ninetales" para Ash e Paul lá em Diamond & Pearl!
- Adoro como Porygon só aparece em dois momentos em "VS Ninetales" (no começo, quando Blue o chama de inútil, e depois no final, já todo felizinho, convertido pelo tempo com Red) e em todo o resto do capítulo ele é completamente esquecido pela Mato;
- Giovanni como caçador de fósseis é um ótimo chefe da Equipe Rocket. Adoro a ironia que a pedrinha que ele deu a Red acabou sendo um Âmbar Velho. Porém, eu devo dizer que não entendi muito bem a luta de Aerodactyl contra Moltres. Que diabos foi aquela cena dos dois trocando ataques, com Moltres disparando fogo contra Aerodactyl e ele respondendo com… Supersônico??? Porém, não dá pra culpar muito Kusaka pela sua saída. Apesar de ser do tipo Pedra/Voador, Aerodactyl não aprende nenhum ataque que seria super-efetivo contra Moltres na I Geração dos jogos da série;
- Adoro como os itens de batalha que Green vende para Red formam uma lindinha armadura de batalha;
- É impressão minha ou a Nidoqueen que Red pegou na Zona de Safári ficou esquecida no fundo do rio?
- Uma das maiores críticas à saga da Liga Índigo do anime é sobre como Ash não ganhava Insígnias por vencer batalhas, por méritos diversos. Não é irônico que Red também ganhe Insígnias baseados nos mesmos princípios? Das quatro que ele possui ao final do Volume 2, apenas a de Brock foi conquistada por vencer uma batalha;
- Apesar do lançamento oficial ter ocorrido em 05 de dezembro de 2016, esse segundo volume de Pokémon: Red Green Blue só chegou na minha casa no começo deste mês, junto da edição #3. É uma demora bastante absurda e eu certamente esperaria um melhor tratamento aos assinantes por parte da Panini;
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