quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Sir Charithoughts: Pokémon XY086

XY086/ Episódio 890 - Moltres em Foco! Fotografe a Lenda!!

Desde sua estreia no anime como Fletchling, Fletchinder sempre foi o Pokémon mais generoso, aquele que não importava em dividir a atenção com outros personagens nos episódios que supostamente seriam seus. Depois de compartilhar os holofotes com Pokémon já muito paparicados pelos roteiristas, como Froakie, em sua captura, e Hawlucha, em sua evolução, agora é a hora de fazê-lo com alguém que é ainda mais negligenciado que ele próprio: Trevor.

Enquanto o anime conseguiu distanciar Tierno e Shauna de suas contrapartes (insuportáveis) dos jogos de forma excelente e dar-lhes personalidades bem delineadas e bacanas, Trevor acabou ficando no banco de reserva. Sua ambição por completar a Pokédex era impossível de representar num anime em que esse trabalho não é feito por crianças, mas por pesquisadores de verdade e dar-lhe uma câmera fotográfica também não era o melhor caminho. Depois de Todd Snap e Trip - este na saga mais recente ainda! - chega a ser repetitivo demais trazer outro viajante fotógrafo para a série e os roteiristas nunca parecem saber usar muito bem essa característica dos Treinadores, o que torna a insistência em investir nisso uma grande incógnita.
É portanto muito feliz a forma como Shinzo Fujita traz o personagem de volta e lhe injeta um novo sopro de vida com seu entusiasmo por fotografia tornando-se algo mais único, peculiar e uma saudável fonte de humor. O sonho de Trevor em ter registro fotográfico de cada Pokémon registrado na Pokédex - agora sim algo palpável - se torna em uma hilária empolgação por notar os detalhes mais minimalistas que distinguem um Pokémon do outro. É particularmente engraçado como ele emenda as fotos magníficas dos lendários Articuno e Zapdos com imagens de Scatterbug, dando-lhes quase que a mesma importância dos lendários por causa do tamanho de suas anteninhas, mas falham miseravelmente em impressionar nossos heróis. Trevor assume seu hobby como um verdadeiro nerd, guiado puramente pela sua paixão solitária por algo incomum e isso é adorável ao mesmo tempo que bizarro, engraçado ao mesmo que um tanto triste (dá cá um abraço, migo, eu te entendo T.T).
De certa forma, a função principal de Trevor como um Colecionador de Fotos Pokémon até parece ser uma versão moderna de Observador Pokémon, que em vez de desenhar os Pokémon, fotografa-os e é muito bacana ver como ele vai sempre em busca dos aspectos mais únicos e singulares de cada um deles. Saber que apesar de o guri estar em busca de Moltres, já tivera a oportunidade de encontrar Articuno e Zapdos é particularmente legal porque é sempre bom sermos lembrados que coisas extraordinárias também acontecem no mundo Pokémon com os garotos que não viajam com Ash e Pikachu. Todavia, por mais que a experiência de Trevor como um fotógrafo profissional de Pokémon com características peculiares seja algo bastante divertido de se ver, os próprios roteiristas parecem reconhecer sua própria incapacidade de sustentar essa carreira por muito tempo e então que algo novo sobre Trevor é estabelecido: ele é mais um Treinador de Kalos em busca de Insígnias.
Enquanto isso é positivo porque lhe confere uma maior importância daqui pra frente, ela também o simplifica. Além disso, ele é mais um somado ao número de possíveis competidores da vindoura Liga Kalos. Porém, essa é uma decisão que na verdade carrega mais pontos negativos que positivos. Primeiro tem a baixa óbvia: cada membro do trio de rivais originalmente competia contra um membro do trio de Treinadores principal. Tierno e Ash nos músculos, Serena e Shauna na beleza e Trevor e Clemont no intelecto. Ainda assim, o anime se mostra incapaz de estabelecer algo interessante que sirva tanto para o inventor quanto para o entusiasta por fotografia competirem juntos e acaba tornando-o um rival de segunda categoria para Ash, tanto que aqui os nerds mal interagem entre si, com o Colecionador de Fotos Pokémon compartilhando a maioria de seus diálogos com o Palletiano.
Outro ponto negativo é que assim o anime está recheando essa Liga de Treinadores que são, no máximo, bacaninhas. Uma das reclamações mais velhas que faço em relação a Pokémon XY é a respeito do fato de não ter introduzido um rival realmente interessante para Ash ainda.  Já se foram praticamente cem semanas desde o começo da nova série e os roteiristas ainda não foram capazes de trazer um concorrente decente para Ash. Temos Sanpei - que você praticamente já poderia colocar num cartaz de desaparecido depois que o Tierno entrou (apesar de que com a vinda de Greninja, ele deve retornar) -, Tierno e Sawyer, que são ambos personagens bacanas, mas nenhum carrega nenhum peso ou ameaça nem impulsiona Ash de forma especial. Rivais estão presentes em todos os jogos da franquia, com sua missão de ser sempre o desafio real a ser superado pelo protagonista e em Pokémon XY, Ash não tem nada para superar desde que Korrina deixou de viajar com o grupo.
Falando honestamente, em 18 anos o anime só foi capaz de fazer isso realmente bem com uma pessoa: Paul. Nem mesmo Gary foi um rival bem tratado - foram mais de dois anos para que e Ash botarem seus Pokémon pra lutar pela primeira vez! E desde então, eles parecem incapazes de preencher essa posição com algum personagem interessante novo - e por isso não me surpreende tanta gente querendo Alain na Liga, mesmo que não faça muito sentido porque o jovem já está enfrentando gente da Elite dos Quatro com Mega Evolução e caça Mega Pedras, não Insígnias.

Com tanta atenção em Trevor, resta a Fletchinder só surgir mesmo nas horas de necessidade: primeiro para  acalmar os ânimos do esquentadinho Charmeleon do Colecionador de Fotos. Se o lagarto já exibia certa agressividade na sua forma base, sua evolução apenas intensificou esse seu traço. É curioso, porém, que Charmeleon tenha tanto entusiasmo e aptidão para batalhas, enquanto seu Treinador definitivamente não passa a mesma sensação. Após a vitória, a ave é chamada para Pokébola, o que é bom porque é terrível como os roteiristas têm sistematicamente forçado a barra com as razões para os Pokémon ficarem fora da Pokébola em episódios de evolução - né Luxray? -, então ganha pontos por consistência. Porém, isso também custa mais tempo de cena para a ave.

O segundo chega num confronto com a Equipe Rocket, que leva ao surgimento de Moltres! Após ter o descanso em lava perturbado, a ave lendária é possuída pelo espírito agressivo de Yveltal e começa a atacar nossos heróis, acreditando que fossem encrenqueiros como os antagonistas. Isso dá a oportunidade perfeita para Fletchinder mostrar que Frogadier não é o único capaz de fazer resgates e sacrifícios por amor ao seu Treinador. A luta entre as aves se beneficia dos já manjados, mas sempre excitantes movimentos de câmera que acompanham seus voos, mas é curta. Novamente um benefício e uma maldição provinda da consistência que o roteiro de Fujita transmite.
Nem mesmo se lançar à frente das chamas de Moltres - após um bater de asas desesperado para proteger as crianças - e se tornar Talonflame (e ganhando um pijaminha de bolinha de bônus) ajuda a ave Fogo e Voadora na batalha. A diferença de poderes é óbvia e sua derrota, rápida, mas compreensiva. É particularmente legal ver não só Ash mergulhando para salvar Talonflame de ser mergulhado nas lavas do vulcão - ele ser do tipo Fogo me faz questionar se ele teria sido mesmo ferido (afinal muitos Pokémon de Fogo estão aptos a produzirem calor imenso dentro de seus corpos…) - e Frogadier se apressando para formar uma corrente de frobolha para resgatá-los (…e se ele fosse mesmo se machucar, então só podemos concluir que esse Moltres é um cuzão!).
"Moltres em Foco! Fotografe a Lenda!!" é um episódio muito bom porque possui uma boa dosagem de humor e ação na medida certa e uma pitada de drama. Porém, contém falhas que são mais fruto da série atual como um todo, do que próprias. Fletchinder não tem a permissão de brilhar sozinho - ele é o que mais apareceu em Ginásios em Kalos, mas ironicamente o único deles a não conseguir finalizar uma disputa -, Ash amontoa rivais sem impacto e - talvez o mais incômodo de todos - a Equipe Rocket trilha um caminho cada vez mais insuportável. É inadmissível que em pleno século 21 eles achem que conseguem pegar um Pokémon lendário sem o auxílio de NENHUMA outra arma além de suas ferramentinhas de sempre e do seu par de Pokémon. Nem em Johto eles eram tão prepotentes, sem criatividade e estúpidos! Quem precisa evoluir urgentemente é essa abordagem extremamente preguiçosa que os roteiristas têm dado para eles.

Considerações finais:
  • Aquele trágico momento em que o robô de Clemont funciona direitinho, mas ninguém vê (além da Equipe Rocket);
  • Ash faz o diagnóstico de Charmeleon… baseado em sua própria experiência? Se for mesmo, então faz sentido que ele tenha escolhido Fletchinder para a batalha: seu Charizard via oponentes do mesmo tipo como dignos de um combate, mas subestimava os de outro. É por isso que ele se recusa a luta contra o Pikachu de Ritchie, mas enfrenta seu Charmander com furor. Também deve ser notado que apesar de agressivo, o Charmeleon de Trevor ainda obedece ao seu Treinador em batalha. Existe uma teoria para que a desobediência do Charizard de Ash tenha sido para ilustrar o fato de que o Palletiano não havia sido seu Treinador original, o que iria de encontro àquele elemento dos jogos de que Pokémon obtidos por troca podem desobedecer seus Treinadores se esses não tiverem Insígnias o suficiente para serem dignos de controlá-los. A obediência de Charmeleon iria de encontro a essa teoria;
  • A voz japonesa do Talonflame é tão… er… nada imponente. Parece uma galinha (bom, tá certo que eu tenho medinho de galinhas, mas não do cacarejar delas… este é patético);
  • A combinação Moltres e Talonflame arrasou na audiência e obteve 4,2 pontos, ficando em nono lugar;
 

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